quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Siderúrgicas brasileiras vivem processo de desnacionalização

Dos cinco grandes grupos do setor, três já têm estrangeiros como principais controladores

Glauber Gonçalves, da Agência Estado 

RIO - A indústria siderúrgica brasileira está em vias de passar por uma nova onda de desnacionalização. Inicialmente controlado pelo Estado, o setor de aço hoje está concentrado em cinco grandes grupos, que detêm mais de 90% da capacidade do mercado. Dos cinco, três têm empresas estrangeiras como principais controladoras. O caso mais recente foi a entrada da ítalo-argentina Techint na Usiminas. 

Esse movimento deve continuar. Executivos da siderurgia brasileira que viajam ao exterior já notam o interesse de grupos de países como Índia e China e da Europa em ingressar no Brasil, em novos negócios ou companhias já existentes. 

"Hoje o que mais tenho ouvido em várias missões é ‘o Brasil é o País do futuro, então vamos colocar nossas plantas lá, porque é lá que vai haver o consumo’. Vemos isso vindo da China, da Índia e da Comunidade Europeia", diz o presidente da ArcelorMittal Aços Longos América do Sul, Augusto Espeschit. 

Além da ArcelorMittal e da Usiminas, que teve 27,7% repassados ao grupo Techint, compõe o clube das gigantes controladas por estrangeiros a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), usina com participação minoritária da Vale inaugurada no Rio em 2010. 

Diante de um excesso de capacidade de produção de 500 milhões de toneladas de aço no mundo, grandes grupos estrangeiros têm voltado os olhos para o Brasil e avaliam que o País está diante de uma oportunidade ímpar para dar um salto no consumo de aço, embalado pelo desafio de solucionar os problemas de infraestrutura e de déficit habitacional e pelo crescimento de uma classe média ávida pelo consumo. Enquanto a China mais do que triplicou o consumo aparente de aço per capita para 427 quilos por habitante entre 2001 e 2010, o Brasil passou de 93,3 para 129,8 quilos. 

Motivos. Os indutores do aumento da demanda no País são múltiplos. A construção de moradias do Programa Minha Casa Minha Vida, investimentos ligados à Copa e à Olimpíada, a reativação da indústria naval e uma série de projetos de montadoras de automóveis atraem a atenção dos estrangeiros, avaliam Guilherme Cardoso e Pedro Landim, chefe e gerente da área de Insumos Básicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

"Se uma empresa no mundo está querendo botar de pé uma siderúrgica, certamente sobre a mesa dela estará o Brasil", diz Cardoso. Ele revela que a expectativa do banco é que a crise internacional provoque adiamentos de projetos do setor no Brasil, mas não cancelamentos. 

Em dezembro último, o banco traçou as estimativas de investimentos em siderurgia para o período entre 2012 e 2015. Em quatro anos, o montante deve chegar a cerca de R$ 32 bilhões, patamar pouco abaixo dos R$ 33 bilhões previstos anteriormente para o quadriênio 2011-2014. 

Cardoso observa que, como o País ainda tem capacidade ociosa na produção de aço bruto, uma expansão em unidades de laminação seria suficiente. "Em algum momento a capacidade de produção de aço bruto no Brasil vai ter de aumentar para atender à demanda interna", avalia. 

A recente avalanche de importação de aço, produtos siderúrgicos e bens industrializados que contêm o insumo pode, no entanto, colocar um freio nos ímpetos do investidor estrangeiro. Para o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Melo Lopes, a dificuldade de competir com os importados deve fazer com que, por enquanto, empresas estrangeiras prefiram entrar aqui comprando participações.

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Tags: siderúrgicas-brasileiras, mercado-aço, comércio-internacional, consumo, China-Brasil, indústria

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Tablet indiano de US$ 45 recebe 1,4 milhão de encomendas em 2 semanas

Nayara Fraga
Matéria publicada no Blog Radar Tecnológico

Estudantes exibem Aakash, distribuído gratuitamente pelo governo em outubro 

O tablet indiano Aakash — considerado o mais barato do mundo, a US$ 45 — recebeu 1,4 milhão de encomendas em duas semanas. Mesmo com uma tela resistente ao toque e um processador lento, 100 mil aparelhos foram reservados, por dia, desde o lançamento online em dezembro, informa o Times of India

A fabricante do tablet, Datawind, não esperava uma demanda tão grande, mas pretende dar conta do recado. Segundo o diário indiano, a companhia estabelecerá mais três novas fábricas no primeiro semestre de 2012 nas cidades de Cochin, Noida e Hyderabad, onde ela está instalada atualmente. 

O presidente da empresa, Suneet Singh Tuli, afirmou ao jornal que planeja fornecer de 70 mil a 75 mil unidades do Aakash, diariamente, quando as fábricas estiverem em funcionamento, por volta de abril. 

A corrida pelo tablet fez o site da empresa ser bombardeado de acessos. Autoridades indianas chegaram a entrar em contato com a Datawind com a notícia de que possivelmente hackers estariam atacando o site. Mas eram apenas as encomendas online o motivo de tanto tráfego . 

“Embora seja verdade dizer que o número de encomendas é geralmente maior que as vendas de fato na Índia, a enorme demanda pelo Aakash mostra que a Índia é um terreno fértil para tablets acessíveis”, diz o The Next Web

A publicação acredita que, com os tablets da Datawind (novo aparelho será lançado em janeiro) e o Classpad (tablet para ser usado em sala de aula, da Classteacher Learning Systems), 2012 será o ano dos tablets de baixo custo na Índia. 

Brasil 

No fim de 2011, o presidente da Datawind deu indícios de que dialoga com o Brasil para fabricar tablets no País. Ele disse que o Brasil tem interesse em subsidiar a produção local dos aparelhos mirando o público estudantil.

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Tags: Tablet, tecnologia, India, inovação, internet, comunicação, pesquisa, desenvolvimento

domingo, 1 de janeiro de 2012

A baixa poupança doméstica e os problemas da indústria

A falta de poupança cria um modelo que favorece serviços, e a competitividade do setor de commodities estimula os bens primários. Com isso, a indústria perde espaço

SAMUEL , PESSOA, É ECONOMISTA, SÓCIO DA, CONSULTORIA TENDÊNCIAS
Matéria publicada no site do jornal O Estado de S.Paulo 

A economia brasileira caracteriza-se por baixas taxas de poupança. A maior consequência desse fenômeno é a dificuldade em financiar o investimento e, portanto, o crescimento econômico. É sempre possível elevar o investimento lançando mão da poupança externa. No entanto, esta opção leva à valorização do câmbio e à perda de participação da indústria na produção. 

Mas por que motivo existe essa vinculação entre desempenho da indústria e taxa de poupança? Uma economia que poupa pouco é uma economia com elevadas taxas de consumo. A demanda por consumo é mais concentrada em serviços do que em bens. As pessoas podem ir todos os dias ao restaurante, mas não compram aparelhos de TV diariamente. 

A forte relação entre consumo e demanda por serviços é a ainda mais verdadeira para sociedades nas quais o padrão de consumo se aproxima do nível de classe média, como é crescentemente o caso brasileiro. O padrão de demanda do Brasil, portanto, é muito concentrado em serviços. 

Adicionalmente, como o País poupa pouco, é necessário absorver poupança externa para financiar o excesso de investimento sobre a poupança doméstica. A absorção de poupança externa ocorre quando a sociedade absorve - quer seja na forma de consumo ou na forma de investimento - mais bens e serviços do que produz. Isto é, a poupança externa, no conceito macroeconômico, representa o ingresso no país de algum bem ou serviço produzido externamente. 

Por exemplo, se a Petrobrás tomar emprestado dólares, mas não gastá-los comprando bens e serviços externos terá de trocar essas divisas por reais - para adquirir bens e serviços domesticamente - e o Banco Central acumulará divisas. Neste caso, não houve ingresso de poupança externa. 

Tipicamente, tudo que é produzido pode ser classificado como bem primário, bem manufaturado ou serviço. Dado que os serviços são não comercializáveis internacionalmente e que o Brasil tem enormes vantagens de custos na produção de bens primários, a absorção de poupança externa pode ocorrer na forma de bens manufaturados ou na forma de bens primários. 

Devido à grande vantagem comparativa que o Brasil tem na produção de bens primários, o País tem de absorver poupança externa na forma de bens manufaturados, o que dificulta o desenvolvimento da indústria. 

É importante entender como funciona o mecanismo de redução da participação da indústria na produção. O setor público estimula a demanda da economia. Seja por meio de elevações reais dos benefícios do programa Bolsa-Família e do salário mínimo (e, portanto, de todos os benefícios previdenciários e programas sociais a ele vinculados), ou de elevações reais dos salários dos funcionários públicos ativos e inativos. 

Ou ainda por meio da elevação dos recursos que o BNDES tem disponível para emprestar a taxas de juros subsidiadas. Independente de mais ou menos meritórias, todas essas ações elevam a demanda. 

A maior demanda por serviços enseja um processo de alta dos preços para que, em seguida, a oferta se eleve. Esse processo tem sido observado nos últimos anos. O mesmo não ocorre, porém, com os bens manufaturados. Neste caso, a expansão da demanda é atendida principalmente pela importação dos bens manufaturados. A solução, no entanto, certamente não é a de fechar ainda mais a economia. O cerceamento ainda maior às importações teria como resultado mais inflação: além de os preços dos serviços subirem, haveria alta também dos preços dos bens manufaturados. O Banco Central teria de subir ainda mais os juros para esfriar o crescimento da economia. 

A tragédia para a indústria é a assimetria entre os serviços e os bens manufaturados. Estes últimos são transacionáveis internacionalmente, ao contrário dos serviços. O problema é que é possível colocar um carro em um navio e transportá-lo. O mesmo, em geral, não ocorre com os serviços. (se ocorresse, o Brasil exportaria carros para a Coreia e esta exportaria, provavelmente, serviços educacionais para o Brasil, nos quais eles são muito superiores a nós.). Portanto, é difícil imaginar que uma economia de baixa poupança e que tenha fortes vantagens comparativas na produção de bens primários - em um momento em que boa parte da humanidade demanda esses produtos básicos - crescerá com expansão da participação da indústria manufatureira no produto. Ocorrerá provavelmente o oposto: uma lenta, mas contínua, queda da participação das manufaturas no produto. 

Uma questão adicional é se há espaço para o Brasil elevar a poupança. A poupança das famílias brasileiras corresponde a 5% do PIB. Na China, atinge 22%. A diferença deve-se ao fato de o Brasil ter um estado de bem-estar social muito mais generoso do que o chinês. A menos que ocorra forte mudança no equilíbrio político que vigora desde a redemocratização - que levou à construção desse estado de bem estar social muito abrangente -, não há espaço para a elevação da poupança das famílias. 

A poupança das empresas, por sua vez, que no Brasil se encontra na casa dos 15% do PIB (na China é de 22%), somente eleva-se se houver redução dos salários ou elevação dos preços dos bens finais produzidos pelas empresas. Ambos, preços e salários, são definidos no mercado. A menos que haja profunda alteração da regulação dos mercados - incluindo alteração nos direitos de organização sindical, entre inúmeros outros - não parece haver espaço para crescimento muito acentuado dos lucros das empresas. 

Finalmente, a ampliação da poupança do setor público, que no Brasil é negativa em 3% do PIB (na China é positiva em 5%), requer redução do gasto público - quer seja na forma de salários de servidores (ativos e inativos), dos programas sociais ou dos juros. Com a recente queda da taxa Selic, há espaço para alguma elevação da poupança pública. 

Nos outros itens do Orçamento, não parece haver muito espaço. Mesmo os juros devem voltar a se elevar em algum momento no primeiro semestre de 2013, em função da provável aceleração da inflação. Outra possibilidade de elevação da poupança pública é por meio de aumentos da carga tributária. Mas parece que a sociedade tem rejeitado novas rodadas de aumento de tributos. 

Tudo indica, portanto, que a baixa poupança veio para ficar. O Brasil terá de conviver com ela. Enquanto perdurar o choque positivo das commodities - que deve ser longo, pois ainda há grandes contingentes populacionais na Ásia a ser incorporados aos mercados -, a indústria brasileira deve apresentar problemas de desempenho. Com baixa poupança, o investimento nunca será muito elevado. 
A agenda do crescimento econômico passa, portanto, pela melhora da produtividade e da qualidade da educação - condições essenciais para que o país tenha um setor de serviços de alta produtividade, como ocorre, por exemplo, com a economia americana.

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Tags: poupança-investimento, economia-brasileira, crescimento-Brasil, exportações-importações, indústria-desafios, baixo-nível-investimento