terça-feira, 28 de agosto de 2012

Para os desempregados da Espanha, tempo é dinheiro

Por MATT MOFFETT e ILAN BRAT
Matéria publicada no The Wall Street Journal

Embora ela seja um dos milhões de jovens espanhóis desempregados, Silvia Martín, de 22 anos, consola-se em saber que tem o apoio do seu banco. Não se trata de uma instituição financeira, mas de um banco de tempo cujos quase 400 membros permutam serviços por tempo.

Martín, que não tem carro, nem dinheiro para andar de táxi, já precisou dos outros membros para lhe dar caronas e a ajudá-la com consertos domésticos. Em troca, ela já tomou conta de parentes idosos dos outros membros, organizou festas de criança e até mesmo carregou caixas para um associado que estava se mudando.

O banco de tempo não apenas economiza dinheiro, diz ela, mas também lhe dá ânimo ao fazê-la se sentir "parte de uma comunidade que está realizando ações positivas em tempos difíceis".

Num momento em que os líderes europeus se debatem com um aperto econômico de cinco anos que impôs à Espanha a maior taxa de desemprego do mundo industrializado, os jovens espanhóis estão cada vez mais aderindo a tais iniciativas básicas para sobreviver. As diversas medidas, — algumas geralmente associadas a economias rurais ou zonas de desastre — suplementam a rede de proteção social que está sendo corroída pelos programas de austeridade do governo. 

Além dos bancos de tempo, elas incluem os mercados de escambo que estão surgindo nos bairros, moedas locais concebidas para estimular a abatida economia de varejo e redes de caridade que reaproveitam coisas descartadas. Um grupo ambiental lançou há pouco tempo os Huertos Compartidos, ou Hortas Compartilhadas, que associam donos de terras ociosas com aqueles dispostos a cultivá-las e dividir a produção. 

O crescimento dos bancos de tempo revive um conceito criado nos Estados Unidos e na Europa pelos anarquistas e socialistas do século XIX, que queriam testar a sua filosofia de que os preços dos bens e serviços deveriam refletir mais fielmente o trabalho gasto para produzi-los. 

O número desses bancos na Espanha — alguns administrados por associações de bairro, outros por governos locais — quase dobrou, para 291, nos últimos dois anos, segundo uma pesquisa de Julio Gisbert, um banqueiro que mantém o website "Vivir Sin Empleo", que acompanha iniciativas de ajuda mútua. Alguns economistas receiam que o aumento de tais sistemas informais de trocas está empurrando a economia da Espanha ainda mais para o buraco — fora do alcance de reguladores e coletores de impostos, e efetivamente fazendo o país regredir no tempo em termos de desenvolvimento. 

"Estamos dando um passo atrás não só como um país do euro, mas também como um país desenvolvido", diz José García Montalvo, professor de economia da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona. 

Bancos e moedas sociais, diz ele, podem prejudicar a economia em geral porque a renda obtida nesses arranjos muitas vezes não é declarada, diminuindo a receita fiscal do governo. Moedas sociais e bancos de tempo também suprimem o uso do crédito, acrescenta García Montalvo, o que, num nível moderado, pode ajudar as pessoas a abrir negócios e acessar bens e serviços benéficos com os quais não poderiam arcar sem fazer dívida. 

Outros, porém, dizem que as medidas representam uma importante força estabilizadora na sociedade. Para as "pessoas que não conseguem arrumar emprego, essas possibilidades de trocas e ajuda mútua podem ajudar a tornar suportável uma situação que de outro modo seria insustentável", diz José Luis Álvarez Arce, diretor do departamento de economia da Universidade de Navarra. 

Iniciativas semelhantes estão aparecendo também em outras economias em dificuldade no sul da Europa. Na Grécia, por exemplo, centenas de pessoas em uma cidade usam uma moeda chamada TEM, a sigla para unidade local alternativa. Bancos de tempo em Módena, na Itália, e em outros lugares do país se mobilizaram para ajudar as pessoas atingidas pelos terremotos deste ano. A economia da Espanha está em mau estado desde o estouro da bolha imobiliária em 2008. O desemprego chegou ao recorde de 25% no segundo trimestre, e o governo prevê que a contração econômica continuará até o ano que vem.

Enquanto isso, o sistema de assistência pública da Espanha vem sofrendo os efeitos dos cortes realizados nos orçamentos estaduais e federal para acalmar os mercados financeiros. À medida que os benefícios terminavam para desempregados de longo prazo, o percentual de espanhóis sem trabalho que recebiam assistência caiu de 78% para 65% em 2010. No mês passado, o governo anunciou o mais severo plano de austeridade orçamentária na história recente do país. 

A crise vem sendo particularmente dura para as pessoas entre 20 e 30 anos, que se tornaram adultas no período de democracia e prosperidade que se seguiu à morte do ditador Francisco Franco em 1975. Esses foram os primeiros espanhóis a colher os frutos do Estado de bem-estar social forte, com saúde para todos, ensino superior acessível e proteções generosas aos trabalhadores, diz Rodolfo Gutiérrez, um sociólogo da Universidade de Oviedo. Elas viram o padrão de vida de seus pais melhorar significativamente e entraram na força de trabalho no fim dos anos 90 e início dos anos 2000, quando o emprego era abundante e o crédito e bens de consumo eram fáceis de obter, diz ele. 

Hoje, trabalhadores de 16 a 24 anos enfrentam a astronômica taxa de 53,3% de desemprego. Para aqueles entre 25 e 34 anos, a taxa é de 27%. Ela cai um pouco para os mais velhos, pois as leis trabalhistas da Espanha podem tornar caro demiti-los. 

Metade dos jovens desempregados vem procurando emprego por pelo menos um ano, segundo a agência de estatísticas nacional, e as poucas vagas existentes geralmente são trabalhos temporários que pagam pouco. O número de pessoas na faixa dos 20 e 30 anos que vivem com seus pais começou a aumentar nos últimos 12 meses, depois de ter caído durante anos. 

"Não é uma geração perdida; é uma geração frustrada", diz José Ortuño, um roteirista e diretor de cinema de 35 anos. Ele fez recentemente uma série de animação para a internet chamada "Treintañeros", que mostrava Pedro, um empregado de lanchonete que tem quatro diplomas. Ele representa uma geração que "vive às custas dos pais até que possa viver às custas dos filhos", diz Ortuño. 

"Eu acho que o modelo de Estado de bem-estar social chegou ao limite", diz Laia Serrano, 38, uma economista que há um ano criou uma organização sem fins lucrativos chamada BarcelonActua, que conecta pessoas necessitadas com aquelas que podem doar bens ou serviços. 

Claro que mesmo os criadores de iniciativas como essa reconhecem que elas não vão salvar o euro ou trazer estabilidade duradoura para a Espanha.

"Estamos numa panela de pressão e tudo o que podemos fazer é deixar sair um pouco do vapor para não explodir", diz Francisco Romero, diretor da agência municipal de emprego da cidade de Totana, que lançou várias iniciativas de economia alternativa.

O Banco de Tempo de Valladolid, aberto pela prefeitura pouco antes do início da crise, tem atraído cada vez mais membros, e mais jovens, com a piora da economia espanhola. Os novos desempregados gostam dos princípios igualitários do banco, diz seu administrador, Juan Manuel Primo: "A hora de cada um tem o mesmo valor aqui", diz ele. Uma hora de trabalho de uma costureira tem o mesmo valor da de um advogado. Membros escrevem recibos uns para os outros pelo serviço prestado. A cada mês, Primo põe os dados dos recibos num computador para acompanhar quantas horas cada membro deu e recebeu. Ele não permite desequilíbrios maiores do que 20 horas em cada direção.

Numa manhã recente na biblioteca municipal, Cristina Altable, 38, que faz parte do banco, estava ensinando inglês para Camila Gil, 17, cuja mãe paga pelas lições passando roupa e fazendo faxina para outros membros. Em troca, Altable tem feito aulas de Pilates e agora um desenhista gráfico do banco está dando uma garibada em seu currículo.

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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Profissão de contador vive bom momento no mercado

Por Claudio Marques
Matéria publicada em Radar do Emprego - Estadão

BERNARDO CARAM – Especial para o Estado

A carreira de contador vive um bom momento. Segundo entidades do setor, a maioria dos graduados é absorvida pelo mercado de trabalho imediatamente após a formatura. Aumento de investimentos estrangeiros e a adoção de regras internacionais de contabilidade estão provocando aumento na demanda por profissionais. Como consequência, os salários também estão ficando mais altos.

Divulgada na última semana, a 5ª Edição do Guia salarial da Robert Half, empresa de recrutamento especializado, mostra que os salários de profissionais com cargos de gerência na área de contabilidade e finanças tiveram valorização de 15% a 20% no último ano. O piso salarial de um coordenador contábil, por exemplo, pode chegar a R$ 13 mil.

Os setores mais aquecidos com relação à demanda desses profissionais são os de bens de capital, construção civil, petróleo e gás. “O atual momento do Brasil e investimentos para Olimpíadas e Copa do Mundo fazem com que esses segmentos demandem mais profissionais”, diz a gerente de recrutamento da Robert Half, Marcela Esteves.

Segundo o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC-SP), Luiz Fernando Nóbrega, um recém-graduado com boa formação entra no mercado com remuneração de ao menos R$ 2 mil. “Vivemos um excelente momento. Surgem muitas vagas e se formam poucos profissionais. Falta mão de obra”, afirma ele. O CRC estima em 15 mil o número de contadores que se formam anualmente, mas não possui dados sobre a falta de profissionais. Oficialmente, são 500 mil registrados no Brasil, sendo 140 mil no Estado de São Paulo.

Para o coordenador do curso de graduação em ciências contábeis da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Márcio Luiz Borinelli, a boa fase pode ser explicada por um conjunto de fatores. “Cada vez mais há investidores estrangeiros chegando ao Brasil. Nesse sentido, as empresas crescem ou mudam de configuração, sendo então obrigadas a cumprir exigências contábeis. Para isso, precisam de contadores”, diz o professor.

A estudante Viviane Rinaldi vai se formar no fim do ano, mas já foi efetivada. “O mercado está aquecido”, observa. Ela, porém, diz que esse quadro não é garantia de sucesso. “É fácil encontrar trabalho. Mas para ficar e crescer, tem de trabalhar muito. É preciso ter dedicação total, porque as leis mudam muito.”
Viviane conta que chegou a receber uma proposta por semana. Recebia convites de conhecidos, ligações de empresas, e-mails para entrevistas, além de informações de processos seletivos de grandes companhias.

Para ela, isso pode ser um canal de negociação para melhorias de salário. Na empresa onde trabalha (Viviane pediu para não identificar), se um profissional de qualidade recebe uma oferta de emprego, é muito provável que haja uma contraproposta de promoção ou aumento salarial.

Reguenild Kartnaller da Costa acaba de se formar e vivencia um cenário parecido. Mesmo enquanto era estudante, recebia diversas propostas. “Eu estava em uma empresa da indústria moveleira. Ligaram para mim de outra companhia com uma proposta e acabaram me levando. Não tive nem tempo de respirar”, afirma. Hoje, ela trabalha em uma grande companhia de aviação.

Reguenild acredita que o segredo está na dedicação. “Não é porque sai de uma faculdade, que está totalmente preparada. Tem de estudar muito”, diz. Para ela, um profissional desatualizado vai encontrar dificuldades para conseguir um emprego.

Foi buscando essa atualização que Geoge Sussumu Chinen resolveu cursar ciências contábeis. Formado em administração, ele era gerente financeiro da organização onde trabalha, mas viu a necessidade de iniciar o segundo curso ao precisar fazer diversas atividades de contador. Para ele, é importante ter contato com as áreas de atuação para depois decidir qual rumo seguir.

De acordo com Nóbrega, são várias as opções de áreas com grande crescimento. O campo de auditoria é crescente e o de perícia contábil oferece bons salários. “No terceiro setor também há oportunidades promissoras. Elas têm contabilidade bastante específica e rígida por precisarem fazer prestação de contas”, conta. Apesar disso, cerca de 30% das contratações estão nos tradicionais escritórios de contabilidade.

Desafios. O mercado brasileiro de ciências contábeis passa por grandes mudanças. Em 2005, o País aderiu às normas internacionais de contabilidade. Houve prazo de adaptação até que em 2010 as empresas tiveram de fechar suas planilhas de contabilidade dentro das novas regras.

De acordo com Borinelli, o profissional formado no Brasil ganhou mais visibilidade e pode até atuar fora do País. Apesar disso, ainda falta profissional com conhecimento das normas internacionais. “Conheço coordenadores de RH de grandes empresas que demoraram até um ano para encontrar esse tipo de profissional.”


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