sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Iene muda futuro de Honda e Toyota

Por Mike Ramsey e Yoshio Takahashi

Há dois anos, a Honda Motor Co. e a Toyota Motor Corp. estavam entre as montadoras mais invejadas do mundo. Hoje, a combinação de um iene forte, dois desastres naturais e erros estratégicos as colocaram entre as mais problemáticas. 

Nesta semana, a Honda disse que não pôde controlar as forças que a atingiram, retirando a previsão de lucros para o ano fiscal que termina em março e anunciando uma receita 56% menor por causa de interrupções de produção e poucas vendas no trimestre encerrado em 30 de setembro. 

A posição da Honda é um mau presságio para outras grandes montadoras e exportadoras japonesas que devem divulgar seus ganhos nas próximas semanas. 
Um iene forte prejudica a competitividade dos preços de automóveis e outros bens fabricados no Japão e reduz o valor dos lucros obtidos no exterior, já que os dólares faturados em outros países compram menos ienes necessários para pagar salários e outras contas na sede da empresa. 

Uma forte intervenção do banco central japonês no câmbio segunda-feira fez o dólar subir em relação ao iene, mas não para o nível usado como base para as projeções de resultados anuais das grandes montadoras japonesas. Agora a Honda espera que o dólar fique numa média de 75 ienes no segundo semestre do ano fiscal, comparado à antiga previsão de 80 ienes. 

Além de o iene estar em alta, grandes exportadores japoneses foram atingidos por uma escassez de automóveis, eletrônicos e outras peças feitas na Tailândia, onde grande parte da área industrial foi inundada. A Honda e a Toyota diminuíram a produção nas fábricas dos Estados Unidos, Canadá e Ásia, por causa da interrupção de fornecimento. 

"Francamente, não há nada que possamos fazer", disse segunda-feira o diretor financeiro da Honda, Fumihiko Ike, durante os comentários sobre os resultados trimestrais. A Honda anunciou no mês passado que iria reduzir as exportações do Japão em 50% nos próximos dez anos por causa do iene forte. 

Problemas relacionados ao iene e às inundações tailandesas chegam num momento em que a Honda e a Toyota estão tentando normalizar suas operações depois do terremoto e do tsunami que atingiram o Japão em 11 de março. 

Por causa da escassez de veículos fabricados em suas montadoras no Japão, a Honda deve perder mais de um ponto percentual na sua fatia de mercado nos EUA neste ano, e a Toyota quase três pontos percentuais. 

Desde o final de 2009, a participação de mercado da Toyota nos EUA caiu 4,5 pontos percentuais, para 12,5% até setembro, uma abrupta queda em seu maior e mais rentável mercado. 

Mas os problemas vão além de interrupções na produção. Os consumidores não estão mais apaixonados pelos veículos dessas montadoras como estiveram no passado. A Toyota, em especial, ficou marcada em 2010 pelo recall de produtos por problemas de qualidade ligados ao desenho de um acelerador que ficava preso pelo tapete. 

O Honda Civic compacto, redesenhado em 2012, tem sido fortemente criticado por trazer um interior pouco luxuoso e uma tecnologia ultrapassada. Agora a Honda deve reformar o Civic para aumentar as vendas, diz Rick Case, cuja concessionária em Ft. Lauderdale, Flórida, está entre as maiores dos EUA. "Tivemos vendas consistentes durante 40 anos. Agora não sabemos o que vai acontecer com ele." 

Ao mesmo tempo, os automóveis fabricados pelas montadoras de Detroit têm se tornado muito mais competitivos e a Hyundai Motor Co., da Coréia do Sul, e a japonesa Nissan Motor Co., que depois do terremoto de março conseguiu recuperar sua produção muito mais rapidamente do que a Toyota e a Honda, têm conseguido ganhar clientes. 

De todos os desafios que a Honda e a Toyota enfrentam, o aumento do iene é o mais sério, dizem especialistas do setor. Na terça-feira, um dia depois provavelmente da maior intervenção para a venda de ienes em um dia, o ministro das finanças do Japão, Jun Azumi, ameaçou adotar mais medidas, dizendo que vai tomar as "decisões adequadas" no momento certo se os especuladores empurrarem o iene para cima novamente. 

A Honda já está repensando a dependência de produção de automóveis no Japão. No início deste ano, a empresa comunicou que está planejando construir uma fábrica no México para produzir o subcompacto Fit — um carro que hoje é exportado do Japão. A Nissan tem tomado iniciativas semelhantes. A empresa produz atualmente um modelo na Tailândia e o exporta para o Japão — um movimento impensável anteriormente. A fabricante japonesa de chips Elpida Memory Inc. e a fabricante de eletrônicos Panasonic Corp. também anunciaram que devem mudar a produção para o exterior. 

Até agora, a Toyota tem resistido à tendência, insistindo que permanece comprometida a fabricar no Japão três milhões de carros por ano. A montadora exporta metade desses veículos. A Toyota anuncia os resultados do segundo trimestre no dia 8 de novembro.


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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Aviso prévio maior deverá aumentar rotatividade de trabalho nas MPE, advertem especialistas

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Ao mesmo tempo em que beneficia os trabalhadores com maior tempo de serviço, a extensão do aviso prévio para até 90 dias encarece as demissões e pode prejudicar o setor que mais emprega no país: as micro e pequenas empresas (MPE). Segundo especialistas e representantes do setor, a medida deve provocar o aumento na rotatividade de postos de trabalho e onerar a folha de pagamento. 

Para o presidente da Confederação Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Comicro), José Tarcísio da Silva, a regulamentação do aviso prévio é justa, mas deveria vir acompanhada de medidas de desoneração para as MPE, que, proporcionalmente, serão mais prejudicadas do que as maiores empresas. 

“A conquista dos direitos dos trabalhadores é justa, afinal o tema levou mais de 20 anos para ser regulamentado. Mas um mecanismo que aumenta encargos trabalhistas complica o emprego formal”, diz Silva. Para ele, a medida praticamente anula os efeitos da ampliação do limite de enquadramento no Simples Nacional, aprovado este mês pelo Senado e que beneficiará até 30 mil empresas que poderiam ser excluídas do regime simplificado de tributação. 

Na avaliação de Silva, a ampliação do aviso prévio deve aumentar a rotatividade nas MPEs porque os empregadores devem demitir trabalhadores que estejam próximos de completar dez anos no emprego para não ter de pagar indenizações maiores. “A medida pune justamente o setor que mais emprega trabalhadores formais”, ressalta. 

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o setor empregava, em 2010, 13 milhões dos 24,9 milhões dos trabalhadores formais do país, o que representa 52,3% dos empregados com carteira assinada. No comércio, as MPEs respondiam no ano passado por 73,7% dos postos de trabalho. 

Especialista em relações trabalhistas do escritório de advocacia Sevilha, Andrade e Arruda, a advogada Elisa Tavares defende uma reforma tributária voltada para as MPE para compensar a ampliação do aviso prévio. “A desoneração da folha de pagamento [em vigor para os setores de tecnologia da informação, móveis, tecidos e calçados] deveria ser estendida às micro e pequenas empresas”, comenta. 

A advogada também reivindica a criação de alíquotas menores para os encargos trabalhistas, o que permitiria às MPE pagar menos que as grandes empresas. “Uma alíquota de 20% sobre a folha de pagamento pesa mais para um pequeno empresário do que para um grande industrial”, ressalta. 

Instituído pela Constituição de 1988, o aviso prévio representa uma forma de compensação da quebra de contratos trabalhistas. Quando o trabalhador é dispensado sem justa causa, o aviso prévio se traduz em um período de carência, em que o empregado permanece no posto por um período até conseguir arranjar um novo trabalho, com reforço nas indenizações trabalhistas. 

A Constituição de 1988 estabeleceu o aviso prévio mínimo de 30 dias, mas previa que esse direito deveria ser proporcional ao tempo de permanência do empregado na empresa. Com a nova lei, o aviso prévio será ampliado em três dias a cada ano trabalhado a partir do décimo primeiro ano. A extensão vai até o prazo máximo de 90 dias, no caso de um funcionário com 20 anos de emprego que, demitido, terá 60 dias somados ao prazo de 30 dias de aviso prévio.


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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Setor imobiliário cria riscos para economia chinesa

Matéria publicada em http://online.wsj.com

Qual seria a cara de um declínio da economia chinesa? 

Ela começa no setor imobiliário, o principal motor do crescimento nacional. O controle do governo sobre especuladores já começou a causar a redução de preços de imóveis residenciais. Em outubro, a média nacional dos preços de um imóvel residencial caiu 0,23% em relação a setembro, o segundo mês consecutivo de queda, de acordo com as informações divulgadas na terça-feira pelo Sistema de Índices Imobiliários da China. 

Se compradores, normalmente acostumados com preços se movimentando apenas para cima, adotarem uma postura de "esperar para ver", o volume de vendas cairá. As vendas em 2011 têm sido robustas até o momento, chegando a 12% de elevação nos primeiros nove meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. Mas nem sempre foi assim. Em 2008, as vendas caíram 15% em relação ao ano anterior. Uma repetição desse fenômeno deixaria as incorporadoras sem dinheiro para cobrir seus custos. 

As incorporadoras mais afetadas seriam obrigadas a uma venda explosiva de inventário, reduzindo drasticamente os preços para atrair compradores. No que pode ser considerado um sinal da situação atual, os preços de dois novos empreendimentos em Shangai foram cortados em mais de 20% em outubro. Em um mercado competitivo, no momento em que uma construtora começa a reduzir preços, as demais acabarão forçadas a fazer o mesmo. O resultado seria uma queda nos valores de ativos e das expectativas de lucro no setor.

Incorporadoras em crise também diminuiriam seus investimentos. Em 2011, até o momento, o investimento no setor imobiliário foi cortado em 35%. Mas este nível de gastos não está garantido. Nos primeiros dois meses de 2009, o crescimento teve redução de 4,7% se comparado com o ano anterior. Se as vendas secarem e o crédito continuar limitado, um declínio parecido não está descartado do cenário de possibilidades para 2012. 

Uma queda dessa magnitude dos investimentos no setor imobiliário poderia abater mais de dois pontos percentuais do crescimento do PIB chinês, que deve ficar em 9% em 2011. A expressiva desaceleração na demanda por materiais de construção, o desemprego entre os trabalhadores do setor e o choque na riqueza das famílias significa que o impacto pode ser ainda muito maior. 

O sistema financeiro não escaparia das consequências. Cerca de 20% da folha de empréstimos dos bancos estão ligados ao setor imobiliário. Outros 16% foram emprestados a governos locais, que receberam 40% de sua receita de vendas de terras. Os preços decrescentes dos imóveis reduziria os preços das terras, elevando o padrão das duas categorias. Com o crescimento desacelerando e a qualidade dos ativos se esvaindo, o governo chinês estaria com uma crise completa nas mãos. 

Essa o pior cenário possível. O principal é que a China vai se recuperar com uma forte e fundamental demanda sustentando os preços dos imóveis e com recursos governamentais apoiando os bancos. Mas Pequim não está onisciente. Os preços dos imóveis chineses está caindo, e a resposta dos compradores e construtores é difícil de prever. A possibilidade de uma queda acentuada nos preços fugindo do controle do governo é pequena – mas ela existe. Se isso acontecer, é hora de reavaliar as chances de um pouso forçado.


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