quarta-feira, 21 de março de 2012

Uma boa conversa é a chave da saúde financeira de um casal


Matéria publicada no The Wall Street Journal

Quando os casais vêm pela primeira vez consultar Bruce Helmer, do Wealth Enhancement Group (Grupo para Aumentar a Riqueza), em Minneapolis, no Estado americano de Minnesota, ele costuma dar a eles um baralho de cartas. Cada carta tem uma palavra que representa um valor, como família, espiritualidade ou aventura, e Helmer pede a cada cônjuge que selecione entre as 50 cartas as 15 que julga mais importantes para si. Por fim, cada um deve reduzir sua seleção para 10 e depois para 5 cartas. Nesse ponto, os dois mostram suas cartas.

Os resultados muitas vezes surpreendem os casais, pois um dos cônjuges talvez nunca tenha imaginado que o outro tem o sonho de escalar o Monte Evereste ou fundar uma ONG. E também indicam uma das maiores dificuldades do planejamento financeiro: conseguir que marido e mulher conversem e expressem o que é mais importante para cada um. 

O trabalho do assessor financeiro é fazer com que a conversa passe de objetivos vagos, como "economizar o suficiente para a aposentadoria", a metas bem reais e concretas, como definir qual o legado que o casal quer deixar na vida. Não é uma tarefa fácil, e exige muito planejamento — e às vezes criatividade — por parte do assessor. 

Kimberly K. Maez, consultora particular para gestão de fortunas na Ameriprise Financial Inc., em Colorado Springs, no Estado do Colorado, dá uma tarefa aos clientes: criar o que ela chama de "livro dos sonhos", usando uma série de perguntas para ajudá-los a desenvolver uma visão para as suas vidas. As perguntas incluem: Como você quer que a sua vida seja daqui a cinco anos? O que é importante para você em relação à família? O que você quer que o seu dinheiro faça para você, para a sua família ou para o legado que você vai deixar? 

Cada cônjuge responde a essas perguntas individualmente e depois conversa sobre o que escreveu. "Eu digo aos clientes que é realmente importante que eles saiam da roda-viva do cotidiano e conversem um com o outro", diz Maez. "Se essas conversas não acontecem ao longo do relacionamento, quando os filhos vão para a universidade a relação tem uma tendência maior a se desintegrar." 

Um casal com quem Maez trabalhou chegou à conclusão de que suas vidas estavam indo em direções diferentes: ele queria viajar para a China e ela queria trabalhar para uma organização de caridade, prestando assistência médica gratuita a pessoas de baixa renda. Antes de discutir de que forma eles poderiam financiar esses objetivos, Maez primeiro pediu ao casal que pensasse se cada um poderia dar apoio ao outro nesses caminhos separados. 

Não foi fácil. No início, ela notou que a mulher ficava de braços cruzados e o homem parava de se envolver na conversa. Mas Maez continuou a fazer perguntas e deixou o casal passar por momentos incômodos de silêncio. Ela então lhes disse para voltar para casa e pensar sobre seus objetivos, individualmente. "Eles perceberam que estão juntos há 25 anos e nunca conversaram sobre a visão de cada um para essa fase da vida", diz Maez. 

Um mês depois, o casal voltou e teve uma conversa aberta, onde cada um teve permissão de dizer o que queria, sem que o outro ficasse na defensiva. 

A mulher, de 60 anos, agora trabalha para uma organização sem fins lucrativos. O marido, de 62 anos, faz periodicamente viagens de duas semanas para o exterior. "Foram as conversas que surgiram a partir do livro dos sonhos que lhes permitiram compreender que cada um tinha que fazer o que queria", diz Maez. Isso, por sua vez, lhes permitiu chegar a um planejamento financeiro mais realista, diz ela. 

Stacy e Barry Johnson, que trabalham juntos em uma consultoria financeira em Casper, no Estado de Wyoming, dizem que o fato de serem um casal os ajuda a entender melhor o funcionamento interno de um relacionamento, quando o assunto é o planejamento das finanças. 

As mulheres muitas vezes se sentem inclinadas a trabalhar com Stacy, e os homens com Barry. "Como casal, temos dois pares de olhos e ouvidos distintos e perspectivas diferentes, o que ajuda os casais a quebrar essas barreiras", diz Stacy, consultora de gestão de investimentos na firma Raymond James Financial Services Inc. 

Os assessores financeiros se lembram de um casal cujo marido tinha guardado muito dinheiro e havia separado as economias em diferentes categorias: viagens e diversão, despesas mensais e despesas para a educação futura dos netos. 

O problema era que a esposa não havia sido envolvida no processo de planejamento financeiro. "Ele sempre pensou em economizar para suas próprias categorias de atividade e não tinha levado as necessidades da mulher em consideração", diz Johnson. "Pedimos que ela expressasse seus desejos." 

Foi a primeira vez que alguém lhe perguntou sobre seus próprios planos de aposentadoria e serviu para lembrá-los que o casamento é uma parceria, na qual ambos os cônjuges merecem ser ouvidos.

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quarta-feira, 14 de março de 2012

Gustavo Franco diz que Brasil deve se acostumar a real valorizado



A abundância cambial no Brasil não é produto de guerras cambiais mundiais ou resultado de um tsunami financeiro como afirma o governo, disse Gustavo Franco, antigo presidente do Banco Central do Brasil, que também é sócio e diretor executivo da firma Rio Bravo Investimentos. 

"As autoridades no Brasil parecem estar querendo se eximir da culpa pela valorização da moeda", disse Franco em uma entrevista ao The Wall Street Journal. 

O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, cunhou o termo "guerra cambial" para descrever as políticas de dinheiro fácil do mundo desenvolvido, enquanto a presidente Dilma Rousseff referiu-se recentemente a um "tsunami financeiro" para reclamar do efeito do dinheiro barato disponibilizado pelos bancos centrais da Europa e dos Estados Unidos. 

Para Franco, que na década de 90 era defensor do regime de taxa de câmbio fixa no Brasil, é uma "perda de tempo" para o governo brasileiro culpar fatores externos e deixar de olhar para os problemas estruturais que permanecerão mesmo depois que o "tsunami" passar, pois a "saúde da economia brasileira" trará mais investimentos ao país. 

"As melhorias na economia são melhorias na moeda... É melhor não lutar contra isso, mas acostumar-se com isso", disse Franco. 

Embora admitindo que intervenções do governo proporcionam algum alívio de curto prazo para o real, ele afirmou que estas ações têm impacto limitado, pois as forças do mercado prevalecerão. Na sua opinião, as mudanças estruturais criam um novo desafio para os líderes da indústria brasileira, que tinham "ideias românticas sobre uma indústria completamente nacionalizada", e que agora precisam aceitar que o conceito de uma indústria autossuficiente, com índices de conteúdo nacional de 95%, é inconsistente com a economia global. 

"Você precisa ser capaz de usar as melhores importações do mundo, capaz de exportar sua atividade; ter plantas na China e Índia e comprar máquinas da Alemanha", disse Franco. 

O antigo presidente do Banco Central acredita que o Brasil está passando por uma transformação parecida àquela já vivenciada pelo Japão e pela Coreia, quando esses países fizeram sua transição para se tornar economias desenvolvidas. Para Franco, o que o Brasil precisa fazer — e já está fazendo — é reduzir o custo de capital, baixando a taxa de básica de juros, a Selic, e também buscar níveis mais altos de produtividade.

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domingo, 11 de março de 2012

O mercado de trabalho do economista

Por Fernando de Aquino Fonseca Neto (*)
Artigo publicado em http://www.cofecon.org.br

O espaço do economista no mercado de trabalho no Brasil tem sido restringido pela visão que se formou desse profissional. As definições de economia, dentre as quais uma mais inteligível seria “a ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, distribuição e consumo de bens e serviços”, evocam uma disciplina de natureza acadêmica, aplicável apenas às discussões da atuação dos governos no ambiente econômico, ou ainda às perspectivas de diversos mercados, em escala global, nacional ou local. É analisando esses temas e eventos que o economista tem tido frequente exposição na mídia, o que faz parecer que o seu espaço seria apenas o de estudioso acadêmico. Outro espaço de atuação reconhecido pela opinião pública seria como especialista em mercado financeiro – habilitado a identificar as melhores oportunidades de compra e venda de ações e títulos, assim como as mais adequadas opções de aplicações financeiras e de financiamentos para indivíduos e empresas. 

De fato, a área acadêmica e o mercado financeiro são fortes áreas de atuação dos economistas – no Brasil e no mundo poucas áreas seriam comparáveis em quantidade e qualidade de mestres, doutores, periódicos científicos e instrumental metodológico; assim como em formação e habilidades para um desempenho diferenciado no mercado financeiro. Entretanto, em várias outras atividades o envolvimento de economistas é vantajoso não só por ampliar o seu campo de atuação, mas pelo seu potencial de prestar serviços mais adequados que outros profissionais, sempre que sua formação específica possibilitar, elevando a eficiência na utilização dos recursos, com implicações favoráveis sobre os resultados do contratante e, como a própria teoria econômica postula, sobre o bem-estar social. 

Mas qual seria esta formação específica? Muitos reclamam, sobretudo os próprios economistas, dos conteúdos dos cursos serem muito teóricos e abstratos, não lhes capacitando para atender às demandas do mercado. Em que pese a importância do aumento de conteúdos de aplicação mais direta, deve-se admitir que é justamente essa sólida formação teórica que permite um efetivo acompanhamento da conjuntura econômica, até em escala global, e uma correta interpretação do comportamento dos mercados de interesse. Agregue-se a essa formação o domínio de instrumentos bem específicos dos economistas, como cálculo financeiro, econometria e análise de insumo produto. Antes mesmo da reserva de mercado legal, disso resultam as suas vantagens em várias atividades. 

As demais profissões são dignas de todo respeito e reconhecimento nas atividades em que suas formações são mais adequadas. Dentre os que interagem com mais freqüência com os economistas, vale citar os administradores, os contadores e os engenheiros. Longe de querer rotular ou limitar a atuação de qualquer profissional, o foco do administrador seria a gestão das diversas áreas de uma instituição; do contador, o registro das alterações e levantamento de demonstrativos do patrimônio de uma instituição, e do engenheiro, a identificação das soluções mais adequadas para demandas no âmbito físico. Assim, o administrador se envolve na gestão de todas as áreas, o contador se apresenta para assumir as demandas de natureza financeira e o engenheiro é dotado de um treinamento que lhe confere grande habilidade para atividades de natureza analítica, mas esses profissionais não retiram a utilidade do economista para empresa, como funcionário e/ou como prestador de serviços. 

Embora com demanda consolidada no mercado financeiro e nas atividades de pesquisa, em universidades, instituições de pesquisa e consultorias, os economistas sofrem a concorrência de outros profissionais em atividades nas quais teriam a formação mais adequada. Nessa situação, vale citar três exemplos – planejamento, projetos e perícia. Deve-se esperar que equipes multiprofissionais tenham desempenho melhor em tais atividades, mas a presença de economistas seria indispensável para a obtenção de resultados de alto padrão, principalmente em função de sua formação voltada para entender o ambiente macro e microeconômico. Essa capacidade em outro profissional é improvável e tende a ser inadequada, podendo ser difusa, superficial ou representar mera opinião. 

Nas atividades de planejamento, seja no setor público ou privado, a elaboração de cenários macro e microeconômicos é indispensável. No mesmo sentido, a elaboração de projetos de viabilidade econômico-financeira exige a identificação de dimensões, momentos e ritmos dos projetos que demandarão pesquisas de mercado e correto acompanhamento da conjuntura e tendências econômicas. Enquanto na perícia econômico-financeira, a utilização de cálculos financeiros e econométricos, além da aplicação de indicadores econômico-financeiros, são requeridos, fazendo do economista o profissional mais habilitado. Observe-se que a perícia econômico-financeira é muitas vezes erroneamente denominada perícia contábil, o que não modifica a sua substância nem a torna privativa do contador. Em particular, essas três atividades citadas são bons exemplos das que seriam mais adequadas à formação do economista, mas muitas vezes são desempenhadas pelo contador, sobretudo por estarem mais próximos das empresas no exercício de suas atividades privativas de registros e elaboração de demonstrativos contábeis. 

Apenas para preencher planilhas e formulários não é preciso ser economista, assim como apenas para cortar alguém com o bisturi não é preciso ser cirurgião. Então, que tal fazer uma cirurgia plástica com um esteticista? Afinal de contas, os barbeiros, que já cortavam os cabelos dos clientes regularmente, eram aproveitados para eventuais extrações de dentes. Porém, nesse serviço nós já evoluímos. 
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(*) Fernando de Aquino Fonseca Neto é doutor em economia pela Universidade de Brasília e presidente do Conselho Regional de Economia de Pernambuco (CORECON-PE)

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