segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A tecnologia está matando empregos?


Uma indagação que um colunista econômico sempre ouve nos dias de hoje é esta: Por quanto tempo mais os Estados Unidos e o resto do mundo estarão na cúspide de uma crise econômica? 

Boa pergunta. 

Mas outra pergunta que se faz com frequência sugere como é profunda a atual ansiedade: Será que tudo vai acabar dando certo para a economia que nossos filhos vão herdar? 

Há provas convincentes de que os EUA têm um problema agudo: pouca demanda, muito desemprego e muitas fábricas subutilizadas. Isso vai passar. Quando? Depende do quanto os americanos decidam reduzir suas dívidas, quais políticas o governo americano seguirá e quanto tempo a Europa levará para se aprumar. 

No entanto, também há evidências de um problema crônico, cujos sintomas surgiram antes ainda da crise financeira. Não é o principal motivo pelo qual o desemprego está em 9,1%. Mas pode ser por isso que os Estados Unidos já não estavam criando muitos empregos antes da recessão, e a renda subia tão lentamente para tantas pessoas. O debate é sobre a raiz do problema. 

Há alguns meses, Tyler Cowen, economista da Universidade George Mason, publicou um e-book profundamente pessimista, cujo título pode ser traduzido como "A Grande Estagnação: Como a America Comeu Todos os Frutos Fáceis". Seu diagnóstico: "Nós não reconhecemos que estamos num platô tecnológico e as árvores estão mais nuas do que gostaríamos de acreditar", escreveu ele. "Era mais fácil para uma pessoa média produzir uma inovação importante no século 19 do que no 20." A internet? Serve mais para proporcionar diversão barata do que para criar valor e empregos. 

Isso não soa correto para Erik Brynolfsson, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. "Não é nada disso que vemos no MIT. Não é o que ouvimos quando conversamos com nossos amigos no Vale do Silício", disse ele. Assim, ele e um colega, Andrew McAfee, lançaram um livro eletrônico celebrando os progressos tecnológicos recentes e as boas perspectivas do futuro. Afinal, a produção per capita da economia americana está 35% mais alta do que era há 20 anos. Isso não é estagnação. 

Mas os professores do MIT acabaram às voltas com perguntas impertinentes. Tais como: Se as coisas estão indo tão bem, por que não há empregos suficientes para todos? E por que a renda da família típica não está subindo mais rápido? (Em parte porque os avanços da medicina, o ar mais limpo, a segurança de poder falar no celular com seu filho adolescente às 3 da manhã são coisas que não aparecem nos contracheques. Mas isso não é tudo.) 

Assim, eles mudaram de foco. Seu argumento agora é: O ritmo da inovação tecnológica não diminuiu. Na verdade, se acelerou. "O ritmo acelerou tanto que deixou um monte de gente para trás. Em suma, muitos trabalhadores estão perdendo a corrida contra a máquina", escrevem eles em "Race Against the Machine" ("Corrida Contra a Máquina"). 

Isso lembra "Player Piano", romance de Kurt Vonnegut de 1952: as máquinas fazem o trabalho e um órgão do governo, o Corpo de Reconstrução e Recuperação, proporciona trabalho para os despossuídos. 

Será que dois otimistas tecnológicos do MIT agora acham que Kurt Vonnegut simplesmente chegou 60 anos mais cedo? Que os computadores estão prestes a deixar todos nós, exceto alguns, desempregados? Nada disso. 

É possível, como Cowen argumenta, que todas as grandes invenções já foram feitas, que o período 1800-2000 foi único na história humana e que os EUA vão deslanchar a partir daqui, enquanto a China e a Índia correm atrás para alcançar. 

Mas Brynolfsson não pensa assim: "Os computadores já são milhares de vezes mais poderosos do que eram há 30 anos, e todas as evidências sugerem que esse ritmo vai continuar por pelo menos mais uma década, e provavelmente mais". A internet é de fato tão potente como a máquina a vapor ou a eletricidade. Os seres humanos ainda estão tentando descobrir como aproveitar todo o potencial do computador. 

Sendo assim, por que tanto sofrimento? Tal como acontece com outras doenças crônicas, há mais de uma causa. A tecnologia está deixando alguns americanos desempregados mais rápido do que está criando novos empregos. Os salários dos que estão aproveitando a onda da tecnologia estão subindo constantemente em relação aos salários dos demais. As pessoas não conseguem mudar com a mesma rapidez da tecnologia e das demandas dos empregadores. Nossas escolas também não estão mudando depressa o suficiente. 

Ao mesmo tempo, a tecnologia e a globalização estão criando condições em que as superestrelas da música, do esporte, do direito, das finanças, etc., estão ganhando fortunas. Ser o número 1 é cada vez mais lucrativo do que ser o número 10. E, acima de tudo, o capital tem se beneficiado – muito mais do que os trabalhadores – dos avanços na tecnologia e na produtividade. 

"No momento, a própria rapidez dessas mudanças está nos prejudicando e nos trazendo problemas difíceis de resolver. Estamos sendo atingidos por uma nova doença (...) o desemprego, pois nossa descoberta de meios de economizar o uso da mão de obra supera o ritmo em que podemos encontrar novos usos para a mão de obra. Mas este é apenas um período temporário de desajuste (...) O padrão de vida nos países progressistas daqui a 100 anos será entre quatro e oito vezes mais alto do que é hoje." 

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Iene muda futuro de Honda e Toyota

Por Mike Ramsey e Yoshio Takahashi

Há dois anos, a Honda Motor Co. e a Toyota Motor Corp. estavam entre as montadoras mais invejadas do mundo. Hoje, a combinação de um iene forte, dois desastres naturais e erros estratégicos as colocaram entre as mais problemáticas. 

Nesta semana, a Honda disse que não pôde controlar as forças que a atingiram, retirando a previsão de lucros para o ano fiscal que termina em março e anunciando uma receita 56% menor por causa de interrupções de produção e poucas vendas no trimestre encerrado em 30 de setembro. 

A posição da Honda é um mau presságio para outras grandes montadoras e exportadoras japonesas que devem divulgar seus ganhos nas próximas semanas. 
Um iene forte prejudica a competitividade dos preços de automóveis e outros bens fabricados no Japão e reduz o valor dos lucros obtidos no exterior, já que os dólares faturados em outros países compram menos ienes necessários para pagar salários e outras contas na sede da empresa. 

Uma forte intervenção do banco central japonês no câmbio segunda-feira fez o dólar subir em relação ao iene, mas não para o nível usado como base para as projeções de resultados anuais das grandes montadoras japonesas. Agora a Honda espera que o dólar fique numa média de 75 ienes no segundo semestre do ano fiscal, comparado à antiga previsão de 80 ienes. 

Além de o iene estar em alta, grandes exportadores japoneses foram atingidos por uma escassez de automóveis, eletrônicos e outras peças feitas na Tailândia, onde grande parte da área industrial foi inundada. A Honda e a Toyota diminuíram a produção nas fábricas dos Estados Unidos, Canadá e Ásia, por causa da interrupção de fornecimento. 

"Francamente, não há nada que possamos fazer", disse segunda-feira o diretor financeiro da Honda, Fumihiko Ike, durante os comentários sobre os resultados trimestrais. A Honda anunciou no mês passado que iria reduzir as exportações do Japão em 50% nos próximos dez anos por causa do iene forte. 

Problemas relacionados ao iene e às inundações tailandesas chegam num momento em que a Honda e a Toyota estão tentando normalizar suas operações depois do terremoto e do tsunami que atingiram o Japão em 11 de março. 

Por causa da escassez de veículos fabricados em suas montadoras no Japão, a Honda deve perder mais de um ponto percentual na sua fatia de mercado nos EUA neste ano, e a Toyota quase três pontos percentuais. 

Desde o final de 2009, a participação de mercado da Toyota nos EUA caiu 4,5 pontos percentuais, para 12,5% até setembro, uma abrupta queda em seu maior e mais rentável mercado. 

Mas os problemas vão além de interrupções na produção. Os consumidores não estão mais apaixonados pelos veículos dessas montadoras como estiveram no passado. A Toyota, em especial, ficou marcada em 2010 pelo recall de produtos por problemas de qualidade ligados ao desenho de um acelerador que ficava preso pelo tapete. 

O Honda Civic compacto, redesenhado em 2012, tem sido fortemente criticado por trazer um interior pouco luxuoso e uma tecnologia ultrapassada. Agora a Honda deve reformar o Civic para aumentar as vendas, diz Rick Case, cuja concessionária em Ft. Lauderdale, Flórida, está entre as maiores dos EUA. "Tivemos vendas consistentes durante 40 anos. Agora não sabemos o que vai acontecer com ele." 

Ao mesmo tempo, os automóveis fabricados pelas montadoras de Detroit têm se tornado muito mais competitivos e a Hyundai Motor Co., da Coréia do Sul, e a japonesa Nissan Motor Co., que depois do terremoto de março conseguiu recuperar sua produção muito mais rapidamente do que a Toyota e a Honda, têm conseguido ganhar clientes. 

De todos os desafios que a Honda e a Toyota enfrentam, o aumento do iene é o mais sério, dizem especialistas do setor. Na terça-feira, um dia depois provavelmente da maior intervenção para a venda de ienes em um dia, o ministro das finanças do Japão, Jun Azumi, ameaçou adotar mais medidas, dizendo que vai tomar as "decisões adequadas" no momento certo se os especuladores empurrarem o iene para cima novamente. 

A Honda já está repensando a dependência de produção de automóveis no Japão. No início deste ano, a empresa comunicou que está planejando construir uma fábrica no México para produzir o subcompacto Fit — um carro que hoje é exportado do Japão. A Nissan tem tomado iniciativas semelhantes. A empresa produz atualmente um modelo na Tailândia e o exporta para o Japão — um movimento impensável anteriormente. A fabricante japonesa de chips Elpida Memory Inc. e a fabricante de eletrônicos Panasonic Corp. também anunciaram que devem mudar a produção para o exterior. 

Até agora, a Toyota tem resistido à tendência, insistindo que permanece comprometida a fabricar no Japão três milhões de carros por ano. A montadora exporta metade desses veículos. A Toyota anuncia os resultados do segundo trimestre no dia 8 de novembro.


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Tags: Honda-Toyota, iene, fábricas-japoneses, mercado-automóveis-veículos, carros-importados, crise-câmbio, impacto-política-cambial, crise-européia-eua