segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Brasil corre risco de desindustrialização mesmo com economia sólida para enfrentar crise mundial, dizem economistas

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O Brasil ainda corre o risco de se desindustrializar, mesmo com a economia apresentando boas condições de reagir a um acirramento da crise econômica mundial, disseram hoje (26) economistas que participaram da abertura do 8º Fórum de Economia, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

A desindustrialização é o processo pelo qual a produção local é substituída pelos importados, enfraquecendo a indústria nacional e afetando as contas externas.

Para Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e presidente da Companhia Siderúrgia Nacional (CSN), a indústria brasileira sofre um grande risco de desindustrialização, não por incompetência da indústria, mas porque o país está muito caro. Ele disse que tem sido especialmente difícil para a indústria exportar. “Hoje, nenhum produto brasileiro industrial manufaturado tem condições de ser exportado, não por deficiência da indústria, mas por causa dos juros distorcidos, com carga fiscal absurda, salários irreais e atraso nas mudanças”.

Steinbruch elogiou a decisão do BC em reduzir a taxa básica de juros, a Selic, antevendo os efeitos da crise econômica mundial na economia brasileira, decisão que foi tomada no final do mês passado. “Acho que o BC tomou uma atitude corajosa que poderia ter tomado muito antes. A verdade é que o fez, sob críticas, mas deve continuar fazendo”, observou o vice-presidente da Fiesp, referindo-se à próxima reunião do colegiado que define a taxa, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, marcada para outubro.

Ele considera que o “Brasil nunca esteve tão bem, enquanto os outros [países] nunca estiveram tão mal”. Steinbruch avalia que a economia brasileira é apoiada num modelo que prioriza emprego, renda, consumo e desenvolvimento e, atualmente, não se pode prescindir de nenhum desses fatores. “Estamos hoje sob ameaça severa de diminuição de atividade econômica e um eventual começo de diminuição do emprego, que quebraria essa corrente, o que seria muito prejudicial”, disse Steinbruch.

Análise semelhante foi feita pelo presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Luiz Barreiras Passos. Ele destacou que o “Brasil está muito melhor diante do cenário” de crise mundial, com a possível recessão e afundamento da economia norte-americana e com os problemas da União Europeia, e lembrou que a redução dos juros pode ajudar a diminuir os efeitos da crise aqui. “O Banco Central fez uma redução expressiva de juros, antevendo e anunciando o que seria a crise internacional. Foi uma medida bastante acertada que pode ajudar a mitigar efeitos da crise internacional no país e pode retomar uma trajetória de queda na taxa de juros recolocando os preços mais importantes da economia no lugar”, disse.

No entanto, Passos enfatizou que o governo precisa ampliar esforços para melhorar a situação da indústria nacional, que “é crítica” pelo fato da indústria vir perdendo competitividade. Para ele, o governo tem sido sensível ao apoiar indústria nacional, mas ainda é necessário que se adote uma política industrial mais consistente, de mais longo prazo e com melhor orientação de investimentos.

“O setor manufatureiro já não cresce há algum tempo. O problema continua grave [apesar das medidas tomadas pelo governo]. Em médio prazo, não vejo como restabelecer a capacidade do produto manufaturado nacional concorrer com o produto produzido no exterior se não tiver, definitivamente, um forte incentivo à inovação, um aumento e um forte impulso à produtividade e uma ação consistente para redução de custos sistêmicos no país. O Brasil é país muito caro. Precisamos trabalhar fortemente na redução de custos porque, senão, estamos diante de inevitável perda da indústria nacional”, observou o presidente do Iedi.

Para o professor de economia da FGV e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, que coordena o fórum, a crise mundial pode afetar o Brasil, mas o país está preparado para enfrentá-la. “O fato de que estamos com uma situação de reservas elevadas e com dívida pública em relação ao PIB [Produto Interno Bruto] baixa, [acredito] que a economia brasileira não será muito atingida. Deveremos continuar crescendo enquanto a Europa está em uma dificuldade muito grande.”

Bresser destacou que esta não é a primeira crise financeira no mundo moderno. De acordo com o ex-ministro, a crise atual teve início com a crise da Bolsa de Nova York, em 1987, e novas crises foram, então, se sucedendo, até 2008, com a quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers. “Evidentemente a crise de 2008 não terminou”, disse.

A crise do momento, em que os Estados Unidos têm que cortar os gastos públicos e rever sua dívida e a Europa tem vários países igualmente endividados, colocou, na opinião de Clemente Ganz Lúcio, diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), um novo problema para o qual ninguém tinha antes atentado, a sustentabilidade. “Isso vai exigir urgência nas decisões políticas.”

Brics cogita comprar dívida da zona do euro--fontes

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sábado, 24 de setembro de 2011

China precisa combater inflação e afastar choques, diz Zhou

Por David Lawder e Frank Tang
http://br.reuters.com/

WASHINGTON (Reuters) - O cenário econômico da China é positivo, mas o país precisa continuar batalhando contra a inflação e estar preparado para repelir qualquer choque externo, afirmou o presidente do banco central do país, neste sábado.

O presidente do BC chinês, Zhou Xiaochuan, afirmou que a China precisa continuar flexível sobre suas políticas econômicas, um sinal de que pode considerar novas medidas de estímulo.

"Alta inflação continua sendo a principal preocupação", disse Zhou em declarações em reunião do Fundo Monetário Internacional.

"Medidas mais flexíveis serão tomadas em resposta a mudanças imprevisíveis na economia mundial e desdobramentos financeiros", afirmou Zhou. "Esforços serão promovidos para reduzir a inflação no curto prazo sem grandes perturbações ao crescimento, enquanto facilitamos a transformação do padrão de crescimento no médio e longo prazos", acrescentou.

A importância da China como motor do crescimento econômico global foi amplificada nas reuniões desta semana do grupo das 20 maiores economias do mundo e o FMI.

Autoridades pediram para a China e outros grandes mercados emergentes para impulsionarem o consumo doméstico e ajudarem a manter o crescimento mundial em meio às turbulências na Europa e fraqueza econômica dos Estados Unidos.

Zhou disse na quinta-feira que os principais mercados emergentes devem encontrar maneiras de aumentar a demanda interna.

Autoridades do G20 e do FMI, em reuniões neste fim de semana, discutiram a necessidade da China de ampliar o consumo doméstico para ajudar a manter o crescimento mundial.

Com 3,2 trilhões de dólares em reservas, Pequim tem amplo poder de fogo se decidir gastar mais, mas precisa ter cuidado para evitar efeitos como aumento da inflação e excesso de investimento em alguns projetos.

Representantes do FMI afirmaram neste sábado que Pequim estaria melhor servida se qualquer novo pacote de estímulo for voltado aos consumidores, não ao aumento de investimento e crédito bancário.

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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Aprendam com o Brasil, diz Eike Batista aos EUA

Por Brian Ellsworth e Daily Matt
http://br.reuters.com/

NOVA YORK (Reuters) - O homem mais rico do Brasil tem uma mensagem para os Estados Unidos -- sigam o nosso exemplo.

Os Estados Unidos devem exigir que uma parcela maior dos produtos que os norte-americanos consomem seja produzida internamente para estimular o crescimento do emprego, como o Brasil tem feito, disse à Reuters o bilionário Eike Batista nesta sexta-feira.

As regras de "conteúdo nacional" na produção brasileira estão ajudando a expandir a construção naval do país e os serviços de petróleo, segundo Eike. Ele disse que empresas como a gigante varejista Wal-Mart devem exigir que os fornecedores chineses produzam parte dos produtos dentro dos Estados Unidos.

"Eu acho que vocês fariam bem, vocês trariam as fábricas de volta à América", disse Eike em entrevista no edifício da Reuters em Nova York. "Se eu fosse americano, eu ficaria bravo com Wal-Mart. Por que 68, 70 por cento dos produtos vem da China?".

Eike disse que, se produtos como vassouras que o Wal-mart terceiriza para a China fossem em grande parte feitos nos Estados Unidos, os maiores custos para os consumidores seriam compensados pelos benefícios mais amplos da criação de empregos locais.

Ele disse que os EUA têm levado ao limite seu modelo econômico, concentrando esforços em lucro a curto prazo às custas de necessidades mais amplas da sociedade, e sem conseguir corresponder aos interesses dos acionistas de empresas norte-americanas.

Enquanto a Europa enfrenta uma crise de dívida e os Estados Unidos podem entrar em recessão, as indústrias de commodities em expansão no Brasil e o forte mercado interno do país devem impulsionar o crescimento econômico brasileiro para cerca de 3,5 por cento este ano.

O Brasil "poderia viver em isolamento esplêndido", disse Eike.

O empresário, considerado a oitava pessoa mais rica do mundo pela Forbes, é o acionista controlador do grupo EBX, cujas empresas operam na mineração, energia e construção naval, entre outros setores.

Regras de conteúdo local podem não criar indústrias mundialmente competitivas imediatamente e os custos podem ser elevados a curto prazo, mas são compensadas por benefícios de longo prazo para o crescimento, disse Eike.

"Você emprega muita gente - é imposto, é criação de empregos e preservação de empregos", acrescentou.

Os Estados Unidos também perderam terreno econômico para países como Brasil ou Alemanha porque suas melhores e mais brilhantes mentes têm buscado trabalho no setor financeiro, em vez de engenharia ou inovação e desenvolvimento, segundo Eike.

Muitas empresas norte-americanas têm sofrido com lideranças ruins que procuram copiar o que outros têm feito ao invés de assumir riscos e responder às mudanças. Executivos das empresas são muitas vezes focados em fazer seus bônus ao invés de inovar, afirmou.

"Há uma desconexão na América, eu sinto, com a falta de alinhamento de interesses", disse ele.

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