domingo, 24 de julho de 2011

"Estados Unidos não entrarão em default", diz Nobel Robert Fogel

É a resposta categórica do historiador económico norte-americano Robert Fogel. "A Ásia vai ter um PIB per capita superior ao dos países ricos de hoje" é a afirmação mais polémica do Prémio Nobel da Economia de 1993em entrevista ao Expresso
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Jorge Nascimento Rodrigues ( http://www.expresso.pt/ )

Apesar do aviso das agências de notação de risco mais importantes de que poderão baixar a notação dos Estados Unidos face ao risco de um incumprimento da dívida americana em agosto, o historiador económico Robert Fogel profere um não categórico quando interrogado pelo Expresso, com alguma insistência, se tal cenário seria possível.

"Não há a mínima hipótese dos Estados Unidos entrarem em incumprimento em qualquer parcela da sua dívida soberana, mesmo sem uma subida do teto de endividamento federal", diz-nos, perentório, o Prémio Nobel da Economia de 1993, com 85 anos feitos a 1 de julho.

O historiador económico adianta que "o rendimento do estado é mais do que suficiente para cobrir as responsabilidades em relação aos detentores de títulos do Tesouro e que ainda sobram vários fundos para vários programas de bem-estar social". "No final, algum compromisso será alcançado", diz-nos Fogel, que ainda dá aulas na Booth School of Business na Universidade da Chicago e escreve livros.

Mas Robert Fogel não se pronuncia sobre a crise das dívidas soberanas na "periferia" da Europa. "Estão para além da minha área de conhecimento", atalha, para passar aos seus temas preferidos em matéria de geoeconomia - a Ásia.
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Um número chocante
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Ele chocou o público americano quando preveniu, num artigo na Foreign Policy no começo do ano passado, que em 2040 a economia chinesa teria uma dimensão na ordem dos 123 biliões de dólares e um PIB per capita de 85.000 dólares. A brincar, a revista destacou que esses "123.000.000.000.000" seriam o número chave da nova hegemonia económica.

"Muita da energia para o crescimento virá do desenvolvimento económico da China e da Índia. No século XXI, a perspetiva é para um forte crescimento da Ásia do Sul e Oriental. Suficientemente forte para dar a esta região do globo um nível de riqueza per capita superior ao que existe nos países da OCDE hoje em dia", sublinha-nos Fogel, repetindo a heresia de que os países ricos de amanhã serão muito mais ricos do que os desenvolvidos de hoje.

Com essa emergência da Ásia, e em particular da China, surge o fantasma de um regresso a uma guerra fria entre Washington e Beijing e a uma competição económica e financeira taco a taco entre as duas superpotências. Fogel reage: "Pelo contrário, é provável que as relações económicas futuras sejam mais suaves do que foram durante muito tempo no século XX. A cooperação económica entre os EUA e a China é do interesse mútuo. Competição entre países pode ser benéfica em vez de destrutiva. É importante não esquecer que a economia global do final do século XX e do princípio do século XXI é caracterizada pela existência de firmas globais".

Por isso, ele vê o mundo daqui a duas ou três décadas numa situação multipolar - rejeita de todo a ideia de um planeta bipolarizado entre os Estados Unidos e a China. Diz o Nobel: "Sem dúvida que os EUA, a China e a Índia vão ser as três grandes economias do futuro. Mas quero acrescentar que outras partes do mundo também terão crescimentos rápidos, incluindo a Ásia do Sudoeste - especialmente Singapura, Malásia, Indonésia, Tailândia, Coreia do Sul e Taiwan - e a América Latina".

Apesar desse multipolarismo, Fogel prevê que o dólar continue a ser a principal divisa mundial. Por uma razão, por vezes menos falada: "os EUA provavelmente continuarão a ser o líder mundial no desenvolvimento de novas tecnologias".

PERFIL: Historiador económico de 85 anos no ativo
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Robert William Fogel, economista e historiador norte-americano, com 85 anos feitos a 1 de julho, dá ainda aulas na Booth School of Business na Universidade da Chicago e é diretor do Center for Population Economics.

Foi Prémio Nobel de Economia em 1993 juntamente com Douglass Cecil North em virtude de serem considerados os "pais" da popularização da cliometria, ou seja do uso no campo da história económica dos métodos quantitativos, da econometria e de modelos matemáticos usados em economia. O termo cliometria vem da deusa grega Clio que era a musa da história e foi inventado pelos economistas Stanley Reiter e Jonathan R.T. Hughes em 1960.

É reconhecido por um trabalho monumental no estudo de bases de dados intergeracionais e abrangendo ciclos de vida longos, que tem gerado ao longo de décadas diversas obras suas e em coautoria consideradas "clássicos instantâneos".

Ele, no entanto, sublinha-nos que a cliometria foi uma "adição" à história económica: "Uso a palavra adição, porque as novas técnicas nunca eclipsaram a necessidade da tradicional coleção e verificação das evidências necessárias para uma investigação empírica sólida".

As suas obras mais recentes são "Capitalism and Democracy in 2040", "Forecasting the Cost of U.S. Health Care in 2040" e "The Changing Body: Health, Nutrition, and Human Development in the Western World since 1700". Tem em preparação com outros dois autores mais uma obra intitulada "Simon Kuznets and the Empirical Tradition in Economics".

Foi premiado em maio pelo recém-criado Instituto Simon Kuznets em Kiev, na Ucrânia, com a medalha de ouro Simon Kuznets, por ocasião do 110º aniversário daquele economista. Fogel foi aluno de Kuznets, Prémio Nobel de Economia em 1971, que descobriu os ciclos económicos de 15 a 25 anos, que acabaram por ficar batizados como "ciclos de Kuznets".

Os seus hóbis preferidos são a música, a fotografia e o artesanato.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

‘Lulismo’ venceu ‘chavismo’, avalia revista ‘The Economist’

Sílvio Guedes Crespo
http://blogs.estadao.com.br/

A revista britânica "The Economist" traz, na edição que chega às bancas do Reino Unido neste fim de semana, duas reportagens que abordam o Brasil. Uma delas afirma que o “lulismo” triunfou sobre o “chavismo” na América Latina.

O outro texto sobre o Brasil tenta explicar por que o País agora consegue trazer de volta muitos de seus jogadores de futebol e considera que o País está ficando mais parecido com a Inglaterra.

‘Lulismo’ contra ‘chavismo’

Um exemplo da decadência do “chavismo” e prevalência do “lulismo” é a eleição do presidente Ollanta Humala no Peru. O político, que no passado era seguidor do venezuelano Hugo Chávez, hoje se disse “convertido” ao modelo de Luiz Inácio Lula da Silva. O Peru é hoje a economia latino-americana com maior taxa de crescimento.

“Com sorte, ele (Humala) pode aderir a outro elemento do sucesso brasileiro: o respeito a contratos com investidores privados.

Para a revista, a combinação de investimentos privados com programas sociais “são a fórmula da moda” na América Latina.

Apesar dos elogios, a revista também faz críticas ao modelo brasileiro. Para o texto, gastos públicos no último ano do governo Lula geraram um aquecimento econômico além da conta.

Futebol

A “Economist” apresenta basicamente os mesmos argumentos utilizados em reportagem recente do ”Financial Times” para explicar por que é crescente a lista de jogadores de primeira linha que estão saindo de clubes europeus para voltar a atuar no Brasil.

O primeiro fator é o câmbio: o real subiu 35% em relação ao euro entre 2004 e 2010. O segundo é a melhora da administração dos clubes de futebol. “Melhores gestões são vistas em todo o Brasil, do setor privado ao governo de alguns grandes Estados, e os clubes de futebol não são exceção.

No caso do Corinthians, que fez uma proposta de R$ 100 milhões para tirar Carlos Tevez do Manchester United, o time paulista ganhou dinheiro com “novos acordos com a televisão e uma aproximação comercial maior junto à sua vasta base de torcedores”.

Após dizer que a Inglaterra passou por um processo semelhante, o texto termina com uma ironia: “Na verdade, o futebol brasileiro pode estar ficando mais parecido com o inglês em um outro sentido. Na Copa América, o Brasil perdeu para o Paraguai nos pênaltis”.

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Somália: 3,7 milhões a morrer à fome

Na Somália, 3,7 milhões de pessoas estão em risco de morrer à fome. As Nações Unidas apelaram aos países doadores para se mobilizarem em €1100 milhões de ajuda humanitária.

Com Lusa
http://aeiou.expresso.pt/

Dezenas de milhares de pessoas "estão em risco de morte na Somália", alertaram hoje em conferência de imprensa responsáveis da ONG francesa Ação Contra a Fome (ACF), enquanto diversas organizações emitiam apelos aos países doadores.

Enquanto a ONU acaba de declarar o estado de fome em duas regiões do sul da Somália, ao considerar que perto de metade da população somali está atualmente em situação de crise, a ONG ACF referiu que "dezenas de milhares de pessoas estão em risco de morte".


"A situação deteriora-se há várias semanas, com dezenas de milhares de mortos. Se nada for feito, é possível que se registe o mesmo número de vítimas nos próximos meses e semanas", admitiu Jens Opperman, chefe da missão para a ACF na Somália.

Os responsáveis desta ONG francesa precisaram que 80% das 12 mil crianças recolhidas nos sete centros instalados pela organização no país estavam em "estado de subnutrição severa e aguda" e que "300 mil pessoas" beneficiavam atualmente dos programas de nutrição da organização.

Por sua vez, a Oxfam France emitiu um comunicado no qual sugere que "começou a contagem decrescente" para evitar numerosos mortos. "A comunidade internacional não pode permanecer imóvel e assistir a esta tragédia", conclui o texto.
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Ban Ki-moon pede €1100 milhões contra a fome
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O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, apelou hoje aos países doadores para se mobilizarem contra a fome na Somália e explicou que são precisos 1600 milhões de dólares (€1100 milhões) para ajuda humanitária.

"Perto de metade da população, 3,7 milhões de pessoas, está em situação de crise", afirmou em conferência de imprensa. "Isso vai ter efeitos devastadores, não apenas na Somália mas também nos países vizinhos", acrescentou.

"No total, são necessários 1600 milhões de dólares para a Somália, onde crianças e adultos morrem todos os dias a um ritmo assustador", adiantou, avisando que "a demora pode causar ainda mais mortes".

Duas regiões do sul da Somália, atingidas por uma grave seca, foram declaradas pelas Nações Unidas zonas de fome. A ONU fala "na crise alimentar mais grave" dos últimos 20 anos em África e apela à mobilização para evitar que a situação piore.

"As agências humanitárias precisam urgentemente de dinheiro para salvar vidas. Se os fundos não estiverem disponíveis para uma intervenção imediata, a fome vai provavelmente continuar e aumentar", afirmou Ban.

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