sábado, 16 de julho de 2011

Vai ao Brasil? Cuidado!

Humberto Maia Junior
Revista Época

Enquanto governos europeus pedem socorro financeiro, o Brasil empresta dinheiro ao Fundo Monetário Internacional. O risco de calote do país é considerado menor que o dos Estados Unidos, e as agências de investimento dizem que o mercado brasileiro é seguro para investidores estrangeiros. Mas, e quando, em vez de dinheiro, o assunto é o envio de turistas? Aí a situação muda. Os governos de Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido mantêm páginas na internet para orientar seus cidadãos que pensam em viajar para o exterior. Se não chegam a analisar em detalhe cada país, as listas de dicas fazem alertas aos turistas para que avaliem a segurança e os serviços locais com olhos de Primeiro Mundo. Para aqueles que planejam vir ao Brasil, a mensagem é clara: pense duas vezes antes de viajar.

O site do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha tenta ser prático e pede que o turista reserve dinheiro para o assaltante brasileiro. “É aconselhável ter consigo cerca de € 50, em caso de rendição.” O departamento de assuntos consulares dos Estados Unidos diz que as praias brasileiras “podem ser uma ameaça à segurança dos cidadãos americanos”. A atenção, segundo os órgãos, deve começar antes mesmo do desembarque. O governo alemão diz que as malas podem se perder: “De um destino brasileiro a outro, é necessário retirar a bagagem do avião e recolocá-la – por mais que, ainda na Alemanha, seja dito que as malas acompanharão a escala feita pelo voo”. A comunicação também preocupa: “Em geral, a língua alemã não é compreendida. Também a língua inglesa, à exceção de grandes hotéis e pontos turísticos, é pouco dominada. O espanhol é compreendido parcialmente no Sul do país. É útil ter conhecimento, mesmo que rudimentar, da língua portuguesa”.

As informações contidas nesses sites repercutem. Em maio e junho, a página americana sobre o Brasil teve quase 55 mil acessos. Caio de Carvalho, presidente da SPTuris, lembra que, quando fazia parte do conselho executivo da Organização Mundial do Turismo (UNWTO, da sigla em inglês), no final da década de 1990, esses sites eram conhecidos como “livros negros do viajante” pelo rigor com que retratavam os destinos. “De certa forma, são considerados exagerados”, diz. O governo britânico discorda da percepção de exagero. Afirma que atualiza as informações do Brasil pelo menos uma vez ao mês, com relatos dos consulados e acompanhamento dos jornais locais, o que resulta em uma descrição atualizada. Hoje os britânicos são aconselhados a não aceitar notas manchadas de tinta rosa. O serviço americano lembra a derrubada de um helicóptero da polícia no Rio de Janeiro, em 2009, e a invasão de um hotel cinco estrelas na Praia de São Conrado em 2010. Diz que bueiros podem explodir e que, em junho, dois americanos foram gravemente queimados num acidente em Copacabana. Segundo o governo britânico, as informações contidas em seu site são usadas pela indústria do turismo e podem até alterar valores de seguros de viagem. “Sabemos que nossas advertências podem ter o efeito de desestimular viagens, negócios e relações políticas, mas não deixamos isso influenciar os conselhos que damos”, afirma o site do escritório britânico.

Há preconceito contra países menos desenvolvidos? Difícil dizer, já que tais sites parecem rigorosos com nações ricas ou pobres. O americano, por exemplo, recomenda que turistas evitem usar o trem metropolitano de Paris para o Aeroporto Charles de Gaulle, nos arredores da capital francesa, por risco de assalto. Os EUA fizeram uma relação de 33 lugares menos recomendáveis no mundo, que inclui México e Colômbia. O Brasil não figura na lista.

A edição 2011 do Relatório de Competitividade de Viagens e Turismo, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, classificou o Brasil como o 52º lugar mais atraente num total de 139. O país ficou em primeiro lugar no quesito recursos naturais, mas apenas em 75º em segurança. A situação já foi pior. Em 2008, o país era o 128º nesse quesito. “Não podemos negar a imagem de intranquilidade, mas podemos mostrar o que estamos fazendo para melhorar”, afirma Antonio Pedro Figueira de Mello, secretário de Turismo do Rio de Janeiro. Para um país que deseja usar a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 como vitrines para atrair o mundo, melhorar não basta. O Brasil ainda precisa ser e parecer mais seguro para que o turista estrangeiro possa vir, passear e gastar sem medo.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um plano Marshall para a educação no Brasil

Matéria publicada em http://www.revistafator.com.br/

Crítico do Plano Nacional de Educação (PNE), o especialista em educação, João Batista Oliveira – que preside o Instituto Alfa e Beto –, conclamou o País a revolucionar a área. Disse que as nações desenvolvidas e com os melhores resultados em educação não operam mudanças por lei – caso do Brasil e do PNE. E tampouco criam camisas de força de metas vazias. Para o Brasil, ele propôs um verdadeiro Plano Marshall para a Educação. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiaria municípios, por exemplo, que avaliariam, com seus especialistas, o melhor formato para a mudança do ensino local. As escolas se valeriam de experiências mais focadas e adequadas às suas realidades. Outro desafio lançado foi a mudança no formato de operação das creches: “Por que um deputado inovador não se preocupa com o tema?” João Batista diz ser inadmissível que as creches tenham seu funcionamento reduzido, quando se sabe que os pais necessitam que os estabelecimentos funcionem diuturnamente.

O debate ocorreu agora a tarde na reunião da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, para a qual o especialista foi convidado, junto com Claudia Costin, secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, e o especialista Claudio Moura Castro.

Outra falácia, para João Batista, é a premissa que gastar mais é melhorar o ensino. O professor citou o Maranhão como exemplo. De 2006 para cá, o Estado aumentou 13 vezes os recursos para a área, mas permanece o péssimo resultado no IDEB. “Diante da compulsão de mudar uma lei, por que não podemos optar por adotar mudanças que serão realmente eficazes ao sistema?”, pergunta.

Sem políticas robustas de intervenção nas práticas cotidianas do ensino público, diz, o estabelecimento de metas é inócuo e não mudará a realidade de um país marcado por altos níveis de analfabetismo escolar, no qual mais da metade dos jovens no 1º ano do Ensino Médio não sabe o mínimo requerido em linguagem e três de cada quatro desconhecem o patamar básico em matemática. (segundo o exame internacional PISA). Para João Batista, a experiência acumulada nos países que conseguiram superar problemas e avançar na educação indica que o essencial é mudar o sistema de gestão das escolas públicas, vetando influências políticas e incluindo o acompanhamento permanente da aprendizagem dos alunos, com metas claras para cada etapa. Também, que é necessário garantir ensino básico igual para todos e Ensino Médio e de jovens e adultos diversificado, contemplando várias modalidades. Outra mudança necessária seria definir com clareza os conteúdos dos vários níveis de ensino e garantir que os materiais pedagógicos e sistemas de avaliação sejam coerentes com isso.

“Temos que repensar a educação para as crianças no Brasil”, propôs. “Exigir que o sistema de ensino alfabetize, de fato, todas as crianças no 1º ano e oferecer para isso metodologia e materiais pedagógicos de eficiência testada e comprovada”. Outra ponta do processo seria rever o sistema de formação dos professores, de forma a garantir que eles dominem os currículos e práticas pedagógicas mais eficientes e fazê-los passar por um período probatório de residência supervisionada e por processo de certificação. Isso inclui criar estímulos e facilitar o acesso de professores de nível superior e com pós graduação ao magistério, além de dar autonomia e criar mecanismos de cobrança e estímulo ao bom desempenho de professores e diretores de escola.

Para o especialista, o PNE deveria ser revisto. Funcionam mais mudanças triviais e mais próximas da realidade do que planos de gabinete impostos por lei. E cuja prática comprova que mais não é sinônimo de melhor: mais verbas para a educação não vão resolver o problema. Estamos convencidos de que o que constitui uma reforma verdadeira não são metas, mas a constituição de valores elevados para mudar a situação deseja”.

João Batista Oliveira foi consultor do Banco Mundial e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para a área de Educação, com projetos desenvolvidos em mais de 60 países.

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