terça-feira, 12 de julho de 2011

PIB e bem estar

Por Fernando de Aquino Fonseca Neto (*)
http://www.cofecon.org.b/

A definição mais aceita de economia há muitas décadas seria de "ciência do bem-estar", o que já estabelece o seu objetivo mais consensual. Ao mesmo tempo, a estatística mais valorizada pelos economistas tem sido o Produto Interno Bruto (PIB), não faltando quem defenda as suas propriedades enquanto indicador de bem-estar. De fato, altos níveis de PIB per capita estão associados a padrões de vida mais satisfatórios para a população em geral, embora, em vários casos, como em grande parte dos países árabes, na Índia e no Brasil, os padrões de vida da maioria da população não cheguem a acompanhar os níveis de PIB per capita observados.

Contudo, se em termos de níveis essa associação com o bem-estar é deficiente, ela fica ainda maior quando se fala em termos de crescimento. O crescimento do PIB é apropriado por parcelas maiores ou menores da população, embora quanto maiores essas expansões, mais fácil para a política econômica disseminar os ganhos.

Mesmo assim, é inegável que uma mesma taxa de crescimento agregado possa gerar benefícios totalmente diferentes - pode se concentrar no aumento dos lucros dos bancos, na produção de bens de luxo com limitada geração de empregos, na produção de commodities intensivas em recursos naturais para o entesouramento de divisas ou se concentrar em obras de infraestrutura, na produção de bens de consumo popular com alta geração de empregos, na expansão da agricultura familiar. Quanto ao argumento de que é melhor esperar o bolo crescer, ou seja, sacrificar as gerações presentes em benefício das futuras, várias experiências nessa linha sequer garantiram as próprias promessas.

Certamente, os casos de níveis ou elevações de bem-estar mais restritos decorreriam de distribuições menos favoráveis da renda gerada. Sobre tal questão, são impressionantes os resultados relatados por André Lara Resende, em seu artigo "Desigualdade e Bem-Estar", publicado neste jornal, no caderno Eu & Fim de Semana, em 27.01.2011: "O ponto crucial do argumento é que, independentemente do nível de renda, a pobreza relativa contribui para a perda de bem-estar. (...) A evidência dos estudos feitos nas últimas décadas, em universidades e institutos de pesquisa por toda parte no mundo, sugere que todos os possíveis indicadores de bem-estar, sejam relativos tanto à saúde, física e mental, quanto a questões sociais, como delinquência juvenil, gravidez adolescente, desempenho escolar, criminalidade, entre muitos outros, estão invariavelmente correlacionados com o nível de desigualdade social".

O próprio autor reconhece que "não há como pretender declarar vitória incontestável, com base exclusivamente na evidência empírica". De qualquer modo, não se pode desprezar essas evidências de que as desigualdades importam, sobretudo nos níveis que persistem no Brasil, para quaisquer fluxos absolutos de renda. Por outro lado, fatores como justiça, meritocracia e estímulos à eficiência, que dependem, em grande medida, de resultados de escolhas, habilidades e empenhos individuais, não podem ser negligenciados.

Assim, em função das dificuldades de se identificar um padrão de distribuição de renda adequado, partiu-se para indicadores mais diretos de bem-estar. Nessa linha despontou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), contemplando as dimensões de renda, saúde e educação. Observe-se que o IDH, ainda que mais abrangente que o PIB per capita como indicador de bem-estar, na dimensão renda permanece sem considerar a sua distribuição, e na dimensão educação não é sensível à sua qualidade, considerando apenas os anos de estudo.

A ênfase na distribuição de oportunidades, em detrimento da distribuição de resultados, mantendo-se uma rede de proteção social mínima, vem obtendo crescente aceitação no debate público. Nesse sentido, indicadores que revelem a geração de oportunidades seriam bastante proveitosos.

Mesmo expressando também resultados, os candidatos mais adequados no país hoje seriam os empregos formais, compilados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em suas bases de dados da Rais e do Cadastro geral de Empregados e Desempregados (Caged), recentemente harmonizadas. Tais bases permitem a montagem de séries mensais de empregos regidos pela CLT, com dados censitários, abrangência nacional e possibilidade de diversas aberturas, geográficas, setoriais e outras.

Não se trata, contudo, de menosprezar a busca pelo crescimento do PIB, que deve ser um objetivo prioritário, mas por meio da viabilização e estímulo aos investimentos, tanto em capital físico quanto humano. Para tanto, seriam condições necessárias mercados, instituições e disponibilidade de recursos, locais ou importáveis, satisfatórios para iniciar o processo. Entretanto, importa ressaltar que, mesmo tais condições não garantiriam fluxos vigorosos e duradouros de investimentos. Fator crucial seria empreendedores dispostos a enfrentar as incertezas dos retornos futuros, ainda maiores em um país com peculiaridades que podem fazer a diferença, positiva ou negativamente. Vale ponderar, também, que políticas públicas que visem apenas incrementar a agregação de valor em sua geração, mesmo pretendendo redistribuí-lo por meio de políticas adicionais em um segundo momento, correm o risco de não lograr essa pretendida disseminação de bem-estar, o que levaria a um processo de "indianização" da economia brasileira.

Políticas macroeconômicas que resultem em crescimentos da demanda agregada superiores à capacidade produtiva corrente favorecem a elevação e descontrole da inflação, que é, ao mesmo tempo, um imposto regressivo e um inibidor do crédito ao consumidor e dos investimentos. Portanto, se o objetivo final é, de fato, a maximização do bem-estar, o mais sensato seria ajustar a demanda agregada aos níveis de utilização adequados da capacidade produtiva, observada ainda a redução das desigualdades, ao menos para o caso do Brasil, assim como a sustentabilidade ambiental, procurando gerar o máximo de empregos de melhor qualidade, como os formais, tanto imediatos quanto oriundos de desdobramentos de cadeias produtivas com tal potencialidade.
_____________________________________________

(*) Doutor em Economia pela UnB e analista do Banco Central (BC). É vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Pernambuco.

Crise vai chegar aos emergentes, alerta BIS

Estudo da entidade aponta que, hoje, toda a economia mundial está ameaçada

Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo
http://economia.estadao.com.br/

GENEBRA - A crise da dívida que começou na Europa vai se espalhar, não poupará nem países emergentes e é uma ameaça para a estabilidade financeira internacional. O alerta é do Banco de Compensações Internacionais (BIS, o banco central dos bancos centrais). A entidade aponta que o risco país elevado será a nova realidade no cenário financeiro e não vai ceder nos próximos anos.

Em estudo feito sobre a crise da dívida, a instituição concluiu que o buraco nas contas dos governos, que é fenômeno em diversos países, chegou para ficar por um longo tempo e pede que autoridades acelerem uma solução se não quiserem ver bancos e todo o sistema financeiro duramente afetados pela nova crise.

O colapso da economia mundial em 2008 obrigou países ricos a promoverem o resgate de setores inteiros das suas economias. Três anos depois, o resultado é a explosão das dívidas dos governos. Entre 2007 e 2010, a média dos déficits orçamentários dos governos passou de 1% para 8% do PIB. Já a dívida média saltou de 73% para 97% do PIB.

Os economistas constataram que são esses próprios governos que sofrem para pagar suas contas. Para o BIS, é a economia mundial que está ameaçada. "A estabilidade financeira global depende das condições fiscais de cada país", alerta.

Cálculos indicam que a crise da dívida soberana irá se espalhar nos próximos anos e papéis da dívida pública serão considerados cada vez mais ativos de risco. "Olhando para o futuro, as preocupações com o risco soberano devem afetar uma gama mais ampla de países", diz o estudo. "Nas economias avançadas, o nível da dívida soberana deve subir nos próximos anos".

Crise ampla. O banco desfaz a noção de que a crise seja limitada à Europa e aos Estados Unidos e aponta que os emergentes não estão imunes. "Nas economias emergentes, a vulnerabilidade a choques externos e instabilidade política podem ter efeitos adversos esporádicos no risco soberano".

O BIS insiste que a crise mais grave é na zona do euro e que os níveis de dívidas dos emergentes são menores. "Mas, no geral, o risco sobre a dívida dos países deve ser maior e mais volátil nos próximos anos", alerta.

Não é só a periferia da Europa que sofre com a crise. Ela já atinge Itália e Bélgica e o estudo deixa claro que EUA, Reino Unido e Japão podem ser as próximas grandes ameaças. Junto com a zona do euro somariam "enormes déficits fiscais".

Alguns deles já foram alertados de que podem perder seu status de AAA dado pelas agências de rating. Esses países, além dos resgates bilionários aos bancos, enfrentam envelhecimento de suas populações, empresas endividadas e famílias com altas taxas de insolvência. "O risco país alto deve ser elemento persistente a partir de agora", indica.

Bancos. Para o BIS, trata-se do fim da percepção de que os papéis do Tesouro desses países não representam risco e quem sofrerá são os bancos. Na Europa, bancos têm exposição de cerca de US$ 1 trilhão nas economias que sofrem com dívidas elevadas. Se for contabilizada, a exposição total dos bancos aos títulos da dívida soberana chegaria a 75% dos italianos, alemães e americanos. No caso dos suíços, belgas e canadenses, a taxa sobe para 200%. A crise da dívida pode levar a uma maior dificuldade dos bancos em relação à liquidez, além da erosão dos lucros e da estabilidade. Os primeiros exemplos são dos bancos de Portugal e Grécia.

Leia também:

domingo, 10 de julho de 2011

Poupança encolhe, crédito imobiliário estica!

Odelmo Diogo - Blog TRADE-OFF

O volume de recursos aplicados em poupança encolheu nos primeiros seis meses de 2011. Conforme informações divulgadas pelo Banco Central, a captação líquida da poupança no 1º semestre foi negativa em aproximadamente R$ 3,2 bilhões, ou seja, o volume resgatado foi maior que o volume aplicado no período.

O movimento de fuga de recursos da poupança para outras aplicações que oferecem taxas de juros mais atrativas é consequência da tendência de alta dos juros na economia, estimulada pelos sucessivos aumentos da taxa básica de juros SELIC.

Um cenário com viés de alta nos juros poderia gerar uma situação de escassez de recursos para fazer frente a crescente demanda por crédito imobiliário. Os recursos aplicados em poupança são utilizados pelos bancos no financiamento de imóveis. Considerando a crescente demanda pelo crédito imobiliário, a redução dos volumes aplicados em poupança poderiam gerar aumentos nos juros dos financiamentos imobiliários.

Conforme dados da Abecip - Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, o volume dos financiamentos imobiliários no mês de abril de 2011 foi 42% maior que o observado no mesmo período de 2010. Esse cenário mostra que o mercado de crédito imobiliário está aquecido gerando assim uma demanda maior por recursos que, em maior parte, são originários da caderneta de poupança.

O cenário acima descrito não pode ser descartado. No entanto, com a acomodação dos índices de preço, a taxa de juros da economia tende a ficar estável no médio prazo atenuando a migração dos poupadores para outras aplicações financeiras.

Outra questão que merece destaque é a flexibilidade que os bancos ainda dispõem no sentido de direcionar esforços para a captação de poupança. Até então, os bancos, com exceção da Caixa Econômica Federal, estimulavam seus clientes a evitar a poupança e direcionar suas aplicações para depósitos a prazo e fundos de investimentos que oferecem melhores ganhos financeiros.

Leia também:
Operações bancárias poderão ser feitas pela TV
Basileia define exigência extra de capital a bancos maiores
Carteira de crédito imobiliário do BB mais que dobrou nos últimos 12 meses
BB & Mapfre vão contratar mil funcionários até o final do ano

Tags: caderneta-poupança, credito-imobiliario, sistema-financeiro-nacional, intermediacao-financeira