domingo, 10 de julho de 2011

A ciência “chora” por falta de recursos, diz presidente da SBPC

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
http://agenciabrasil.ebc.com.br/

Brasília - Começa hoje (10), em Goiânia, a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Na edição deste ano, o encontro deverá reunir cerca de 10 mil pessoas e terá como tema Cerrado: Água, Alimento e Energia.

A escolha do tema comprova a preocupação da comunidade científica brasileira com a questão ambiental, de forma “transdisciplinar” enfatiza a bióloga Helena Bonciani Nader, professora do Departamento de Bioquímica da da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidenta da SBPC, reeleita recentemente.

Este ano, Helena Nader iniciou duas cruzadas em Brasília. A primeira é para fazer com que os parlamentares ouçam os cientistas brasileiros quanto às mudanças no Código Florestal. A segunda é para garantir que a ciência e a tecnologia não percam investimentos públicos. Segundo ela, o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminou com elogios da comunidade científica, quanto a investimentos. Porém, com os cortes anunciados em fevereiro, na gestão da presidenta Dilma Rousseff, a classe científica chora a falta de recursos.

Leia a seguir os principais trechos de entrevista que a presidenta da SBPC concedeu à Agência Brasil, antes de viajar para Goiânia.


Agência Brasil – O tema central da reunião será mesmo a questão ambiental?
Helena Nader – Entre várias outras, não é? Não é só o ambiental, tem também, por exemplo, toda uma discussão em torno do individuo que mora em determinada região. Haverá avaliações sobre o impacto de algumas obras nas populações. Estamos olhando o ambiental, mas também estamos olhando a economia. O foco é transdisciplinar, não é só ambiente em si ou a preservação.

ABr – Os grandes projetos estão na agenda política nacional assim como a mudança do Código Florestal sobre a qual a SBPC se posicionou, mas não foi ouvida na votação na Câmara dos Deputados. Os cientistas estão sendo ouvidos no Senado?
Helena Nader – Sim, já participamos de algumas audiências públicas. Duas delas aconteceram na terça (5) e na quarta-feira (6). Levamos a contribuição que a ciência pode dar. Não cabe à SBPC verificar aspectos jurídicos e políticos. O grupo de trabalho da SBPC não opinou em relação ao problema de perdão da divida [para quem desmatou até 2008], portanto. Estamos mostrando que existe uma ciência que o Brasil domina e deve ser levada em consideração. Há tecnologias que podem ajudar, por exemplo, na definição das áreas de preservação permanente e de reserva legal, assim como nos meios de recomposição florestal. É preciso deixar claro que a SBPC não é pró-ambiente e nem pró-agricultura, ela é pró-ciência. A ciência pode dar equilíbrio a essas duas coisas.

ABr – A reunião ocorre depois de a presidenta Dilma Rousseff completar os primeiros seis meses de mandato. Como a comunidade científica avalia o desempenho do governo?
Helena Nader – Estamos muito preocupados. Muito mesmo. O governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminou com elogios de todos os lados, inclusive da comunidade científica. Elogios muito grandes porque tinha investido mais em ciência, tecnologia, e estava começando no trilho para a inovação – que é o que todo mundo cobra. Foram criados os institutos nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) dentro daquela política de Estado de manter a pesquisa e fazer esse diálogo com o setor produtivo. O que aconteceu? Para surpresa nossa, foi cortado o orçamento dos INCTs. Então, aquilo que vinha em um crescente, caiu. Foi cortado em fevereiro e não vai ter recomposição. Então, estamos lutando por essa recomposição. Os cortes do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) não fazem sentido.

ABr – Os INCTs articulavam os pesquisadores do país inteiro. E como eles ficam agora?
Helena Nader – Eles continuam existindo, mas não têm dinheiro. Aquilo que saiu, saiu. O corte foi para tudo. Não é só para os INCTs. Houve um corte em torno de 25% – isso é muito dinheiro! Não é que o ministro [Aloizio] Mercadante [da Ciência e Tecnologia] ou secretário executivo do MCT, [Luiz Antônio] Elias não estejam lutando. Nós fomos chamados [a Brasília] e nos disseram que isso já se resolveu, mas eu ainda não vi isso por escrito. Fomos chamados para uma reunião com todos os setores da sociedade para discutir o Plano Plurianual. Fui como representante da ciência. Na reunião, vimos que haviam dez macrodesafios no plano, mas não estava a área de ciência e tecnologia.

ABr – Isso não foi resolvido? O Ministério do Planejamento enviou nota à Agência Brasil afirmando que “Ciência, Tecnologia e Inovação formavam um macrodesafio.”
Helena Nader – Eu não vi isso por escrito oficialmente. Eu gostaria de ver isso no documentado. Por outro lado, eu tenho que saudar a presidenta, porque está tendo cada vez mais investimento na educação.

ABr – A SBPC acompanha a discussão do Plano Nacional de Educação?
Helena Nader – Estamos participando. Algumas pessoas da SBPC acham que temos que fazer uma grande revolução estrutural nas universidades. Outras, não. Estamos com modelo antigo para as universidades – modelo francês que tem 150 anos –, e hoje e temos que ter uma flexibilização de currículos. O MEC está incentivando que isso aconteça, mas é difícil acontecer de uma vez. Todos concordam que tem que haver uma maior flexibilização no sentido de o estudante poder fazer outras coisas em outros lugares e isso valer créditos.

Abr – O MEC junto com o MCT têm anunciado a prioridade para a formação de engenheiros. A senhora, que é da área de biomedicina, não teme que essa prioridade às engenharias signifique a diminuição de verbas para outras áreas? Fazer isso não seria desvirtuar uma vocação da pesquisa no Brasil, visto que 25% daquilo que se pesquisa é na área de biomedicina?
Helena Nader – Não desvirtua a vocação. A gente precisa das duas. Por enquanto, a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] aumentou os recursos. O Ministério da Educação não teve cortes. Investir na formação é investir no futuro. A gente precisa [de mais engenheiros] se quisermos ter inovação. O Brasil sempre formou muito bem engenheiros. Temos grandes escolas, mas o número de que nós precisamos está abaixo da necessidade, para dar o salto que o Brasil diz que quer dar. Ninguém é contra o projeto porque isso é politica de Estado. Agora, o governo pode, uma vez mantido isso, dizer que há outras coisas consideradas prioritárias. Não adianta tirar de A para pôr em B. Quando Barack Obama assumiu a Presidência dos Estados Unidos, no auge da crise econômica, ele pôs mais dinheiro em ciência e tecnologia. Só com ciência e tecnologia que você reverte a ausência de empregos e de inovações.

Abr – O ministro Mercadante costuma citar Barack Obama que disse que os Estados Unidos precisam encontra um novo Sputnik (satélite artificial enviado ao espaço pela União Soviética, na década de 50) , que os desafiaram na corrida espacial contra a União Soviética.
Helena Nader – Não é o Sputnik que eu quero encontrar. O Brasil investe muito menos em ciência e tecnologia. Nós, quando acabou o mandato do Lula, comemoramos a ascensão da ciência e tecnologia em termos de financiamento. E agora eu choro a falta de recursos.

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O mercado bilionário dos concursos públicos

Por Odelmo Diogo - Blog TRADE-OFF

Foi realizado nos dias 08 e 09 de julho, no Rio de Janeiro, a 8º Feira do Concurso. O evento vem sendo realizado anualmente desde 2004 e possui como finalidade a orientação dos candidatos quanto as melhores estratégias, técnicas de estudo e material utilizado na fase de preparação.

Em 2010, o mercado dos concursos movimentou aproximadamente R$ 50 bilhões, conforme dados da ANPAC - Associação Nacional de Apoio e Proteção aos Concursos. Para o ano de 2011, apesar das ameaças de diminuição dos concursos públicos em decorrência da política de corte de gastos da União, a perspectiva para o setor é de crescimento.

O mercado dos concursos abrange cursos preparatórios, gráficas especializadas em apostilas e livros para preparação de concursos e as instituições organizadoras dos certames.

Os dados da ANPAC mostram que em 2010 cerca de 4 milhões de pessoas se inscreveram em concursos federais para vagas com salários que vão de R$ 800,00 a R$ 24 mil. Para 2011, a expectativa no início do ano indicava a realização de concursos para preenchimento de 130 mil vagas em todo país.

A ANPAC calculou que um candidato que se dedique exclusivamente a preparação para concursos gasta cerca de R$ 12 mil por ano com cursinhos preparatórios, material de estudo, refeições e demais gastos necessários.

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sábado, 9 de julho de 2011

Economistas norte-americanos querem adotar código de ética

Por Kristina Cooke e Emily Flitter
http://br.reuters.com/

NOVA YORK (Reuters) - A maior associação de economistas do mundo está considerando adotar diretrizes éticas depois da divulgação de casos de conflitos de interesse. Apenas alguns de seus 18 mil membros, porém, se deram ao trabalho de propor alguma norma.

A Associação Americana de Economia (AEA, na sigla em inglês) no começo do ano incumbiu um painel composto por cinco pessoas de estudar ética e economia - em parte em resposta ao documentário "Inside Job", de 2010, que vilipendiou uma série de figurões da economia que defendiam a desregulamentação da economia ao mesmo tempo em que recebiam dinheiro de Wall Street.

O filme também fritou notadamente o ex-governador do Federal Reserve Frederic Mishkin, que escreveu um artigo elogioso sobre o sistema financeiro da Islândia em 2006 - pelo qual foi pago pela Câmara de Comércio islandesa. Dois anos depois, o sistema financeiro do país entrou em colapso.

O painel, presidido pelo economista laureado pelo Prêmio Nobel Robert Solow, pediu sugestões dos membros, com um prazo de entrega para o final de junho. Até agora, porém, disse Solow, ele recebeu no máximo doze respostas.

Essa não é uma surpresa para David Card, professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley e membro do comitê de ética ad-hoc da AEA. "Há algumas pessoas que têm uma opinião firme sobre isso, mas essa não é uma grande questão para a maioria dos economistas", disse Card.

"Talvez haja algumas pessoas em finanças que ganhem muito dinheiro. Eu sou economista do trabalho. Nós não ganhamos nenhum dinheiro. Isso não é relevante para as pessoas com quem eu trabalho."

Em janeiro deste ano, cerca de 300 economistas, incluindo a ex-assessora econômica da Casa Branca Christina Romer e o vencedor do Prêmio Nobel George Akerlof, assinaram uma carta pedindo que a AEA adote um código de ética. Nenhum dos membros do comitê de ética, que inclui Derek Bok, William Nordhaus e Nancy Stokey, estava entre os signatários.

A carta citou um estudo feito por 19 economistas financeiros que descobriu que a grande maioria não revela suas filiações particulares ao escrever artigos acadêmicos sobre reforma financeira ou artigos nos jornais.

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