quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Mineração já paga US$ 200.000 por ano para operários

Por John W. Miller de Mandurah, Austrália
Plubicada pelo The Wall Street Journal

Um dos custos que mais crescem no setor de mineração, em todo mundo, é o de trabalhadores como James Dinnison: o jovem australiano de 25 anos, que abandonou os estudos no ensino médio, ganha US$ 200.000 por ano operando uma broca em minas subterrâneas para extrair ouro e outros minérios. 

Todo tatuado, Dinnison começou a trabalhar nas minas há sete anos ganhando US$ 100.000, tem um carro modelo Chevy Ute azul, de 2009, que lhe custou US$ 55.000 – antes de uma reforma no motor de US$ 16.000 – e uma moto personalizada de US$ 44.000. O preço pago pelo seu cachorro chihuahua, Dexter, que late a seus pés: US$ 1.200. 

Ele próprio pode ser considerado uma preciosa commodity. Dinnison pertence a uma classe de novos ricos em ascensão em lugares remotos – e ricos em minerais – como o Estado da Austrália Ocidental, onde companhias mineradoras estão investindo pesadamente para desenvolver e expandir minas de ferro. A jornada é dura: exige 12 horas por dia, muitas vezes em condições perigosas, enquanto passam semanas morando em cidades pequenas e poeirentas. 

"É uma escassez histórica", diz Sigurd Mareels, diretor global da área de mineração da McKinsey & Co. Não apenas na Austrália. No Canadá, por exemplo, o Conselho para o Setor de Mineração prevê um déficit de 60.000 a 90.000 trabalhadores até 2017. O Peru, por sua vez, precisará encontrar 40.000 novos mineiros até o final da década. 

Por trás dessa procura por trabalhadores em minas está o boom da construção civil na China e em outras economias emergentes, que tem impulsionado a demanda por minério de ferro, usado para fazer aço, e outros metais com aplicação na construção de imóveis. 

A escassez de recursos humanos tem um preço alto. "As pressões inflacionárias estão aumentando os custos e os salários em locais de mineração como Austrália Ocidental, Chile e África", disse Tom Albanese, diretor-presidente da Rio Tinto PLC, a terceira maior mineradora do mundo em vendas. "Há um crescimento de dois dígitos nos salários dos mineiros, em várias regiões". 

A escassez é particularmente grave na Austrália, a maior fonte mundial de minério de ferro e segundo maior produtor de ouro do mundo. 

O Conselho de Minérios da Austrália estima que o país precise de um contingente adicional de 86.000 trabalhadores até 2020, para complementar a atual força de trabalho estimada em 216.000. "É um mercado de trabalho difícil, e com custos ambientais complicados", disse Ian Ashby, presidente da divisão de minério de ferro da BHP Billiton Ltd.. Para atrair trabalhadores, a BHP e outras empresas estão criando centros de recreação, quadras de esportes e galerias de arte nas miseráveis cidades onde se instalam. A BHP disse que o aumento dos custos com força de trabalho e capital reduziu seus ganhos em US$ 1,2 bilhão durante o primeiro semestre deste ano, quando a empresa registrou lucro de US$ 11,2 bilhões. 

Alguns trabalhadores na Austrália vêm das Filipinas e Nova Zelândia. "Faz sentido para mim", diz Ricky Ruffell, 47 anos. O neozelandês, que opera uma niveladora em Port Hedland, no nordeste da Austrália, voa de volta para casa uma vez por mês, pagando ele mesmo pelas passagens que custam US$ 1.200, ou 1% do seu salário anual de US$ 120.000. 

A empresa onde Ruffell trabalha, a australiana NRW Holdings Ltd., paga as tarifas apenas em voos domésticos. A companhia não quis comentar casos individuais como os de Ruffel, mas diz que paga o que o mercado exige. 

O salário médio no setor de mineração na Austrália estava em torno de 108.000 dólares australianos, ou cerca de US$ 110.000, em 2010 – o valor inclui trabalhadores menos qualificados e os que cumprem jornadas parciais, e ainda assim está bem acima da média de 66.594 dólares australianos para todos os trabalhadores no país, de acordo com o governo da Austrália. 

William Boal, professor na Universidade de Drake, nos Estados Unidos, que estuda economia do trabalho no setor de mineração, disse que os salários mais altos refletem, em parte, o custo de vida mais elevado nessas áreas isoladas. 

"Há também a inflação – essas pessoas nunca viram tanto dinheiro antes, e estão gastando". Os mineiros estão comprando casas, carros e bens de consumo, pressionando os preços locais.


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