quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Empresas terão prejuízo com disparada do dólar

Até terça-feira, efeito da alta da moeda na dívida de companhias que não se protegeram da variação já representava 44% do lucro no segundo semestre

Renée Pereira, de O Estado de S. Paulo
http://economia.estadao.com.br/

A escalada do dólar nos últimos dias deverá provocar prejuízos para as empresas que têm dívidas em moeda estrangeira. Até terça-feira, o efeito do dólar no endividamento das companhias já representava 44% do lucro (antes de juros e impostos, Ebit) obtido no segundo trimestre deste ano - isso considerando que as empresas não fizeram hedge para se proteger da variação cambial.

Em menos de três meses, o volume da dívida externa subiu R$ 11,38 bilhões, segundo levantamento feito pela Economática, com 241 empresas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa). Apenas foram incluídas na pesquisa companhias que informaram o endividamento em moeda estrangeira nos dois períodos (2008 e 2011).

Além disso, para não distorcer o resultado, o trabalho excluiu dados da Vale e Petrobrás. No caso da petroleira, considerando que a estatal não tenha feito nenhuma operação de hedge, a variação cambial dos últimos dias significaria um impacto de 87% no Ebit do segundo trimestre(a dívida da empresa em moeda estrangeira é de US$ 46 bilhões até junho), afirma Einar Rivero, da Economática.

Na avaliação de Ricardo Torres, professor da BBS Business School, as companhias que não fizeram hedge cambial vão ter seus balanços e lucratividade afetados neste ano, mesmo que o dólar volte aos níveis dos últimos meses. O cenário do professor, no entanto, não mostra queda na cotação da moeda americana tão rapidamente. Nas projeções dele, o câmbio deve alcançar os níveis da crise de 2008, próximos de R$ 2,20. "Estamos vivendo agora o repique do estresse do mês passado", destaca. Com a volta dos executivos, que estavam de férias, as contas foram refeitas e o resultado é o que o mercado está vendo agora.

De acordo com o levantamento da Economática, um dos setores que podem sofrer mais com o avanço do dólar é o de papel e celulose. Entre junho e setembro, o endividamento das companhias cresceu R$ 1,6 bilhão, ante um Ebit de R$ 147 milhões no segundo trimestre. O setor de energia elétrica, tradicionalmente uma das áreas com maior volume de dívida em moeda estrangeira, está em situação um pouco melhor, mas ainda assim pode apresentar fortes prejuízos nos resultados trimestrais. Se o balanço das empresas fosse fechado agora, a variação cambial seria equivalente a 35% do lucro Ebit no segundo trimestre.

Segundo especialistas, as companhias estão mais preparadas do que em 2008. Além de reduzir a fatia da dívida externa no total (de 33,4% para 23,2%), elas alongaram o perfil da dívida. Boa parte das captações no exterior foram feitas com prazos de dez anos. Ainda assim, elas não estão livres do contágio cambial. Até porque a maioria não tem hedge para se proteger das variações do dólar por se tratar de operação muito cara.

"O hedge tem de ser obrigatório e em tempo integral", avalia Ricardo Torres. Segundo ele, as decisões na Europa sobre a Grécia podem arrefecer um pouco a pressão sobre o câmbio. Mas os problemas não acabam aí. Para o economista, o mercado americano talvez seja mais grave que a questão da Grécia. "Só espero que as companhias tenham aprendido com a crise de 2008 e estejam fora das operações de derivativos cambiais, que causaram prejuízos em 2008."

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