domingo, 28 de agosto de 2011

Sem rever modelo, PIB chinês crescerá só 3% ao ano, diz especialista

Camila Dias, Fernando Travaglini e Filipe Pacheco | Valor
http://www.valor.com.br/

CAMPOS DO JORDÃO - O modelo atual de crescimento da China, baseado no aumento do investimento e não na expansão do consumo, pode levar a economia do país a ter crescimento anual de apenas 3% ao longo da próxima década, afirmou Michael Pettis, professor na Guanghua School of Management da Universidade Peking.

Pela teoria de Pettis, o aumento do investimento em torno de 15% ao ano vai levar a dívida do país a um nível insustentável no médio prazo. Ao mesmo tempo, a participação do consumo no PIB chinês é muito baixa, hoje em torno de 30%, ante média mundial de 65%. Segundo o professor, para que o consumo represente uma fatia maior do Produto Interno Bruto (PIB), ele precisa crescer a um ritmo entre 3 e 4 pontos percentuais acima da taxa de expansão da economia, enquanto o investimento precisaria cair drasticamente.

"A China tem sérios problemas com a estrutura de seu crescimento econômico e vai precisar rebalancear essa equação o quanto antes. Essa situação é insustentável", afirmou. Pettis traçou três cenários para o país com base em previsões de crescimento para os próximos anos.

Pelo modelo atual, considerando a visão predominante do mercado, segundo a qual a economia chinesa vai continuar crescendo em torno de 9% ao ano pelos próximos cinco ou dez anos, isso significa que o investimento precisa crescer a uma taxa de 15% ao ano. Um segundo cenário, que, segundo ele, começa a ganhar cada vez mais adeptos, pelo qual a China vai desacelerar seu crescimento para algo entre 5% e 7% ao ano nesse período, o investimento precisaria aumentar cerca de 10%. E num cenário mais pessimista, defendido como provável pelo professor, segundo o qual a China cresceria 3% ao ano na próxima década, o investimento teria que subir de 5% a 6%. "Ou seja, mesmo no melhor cenário o investimento precisa crescer muito para que o ciclo se sustente".

Segundo o professor, o consumo doméstico na China é muito baixo e o país depende muito de superávits comerciais. "Isso é um problema porque não dá para garantir que o restante do mundo vai absorver essa oferta de produtos sempre. Se não consegue ter superávit comercial forte, vai ter déficit em conta corrente cada vez maior. Déficits em conta corrente muito altos não são sustentáveis no longo prazo", disse.

A saída para o país, na avaliação de Pettis, é o aumento da participação do consumo interno no PIB, reequilibrando o modelo de crescimento. Segundo o professor, o consumo representava em 2005 40% do PIB do país, nível já considerado muito baixo. Na economia americana, considerada pelo professor como outro extremo, 70% do PIB está amaparado pelo consumo. Em 2009, último dado oficial, o consumo respondeu por 35% da economia chinesa. E, pelas contas de Pettis, essa taxa deve cair para algo em torno de 30% este ano.

"Em março último, a China anunciou seu plano econômico para os próximos cinco anos e elevar a participação do consumo estava entre as prioridades. Vamos assumir que em cinco anos o consumo volte a ser 40% do PIB. Isso significa que ele precisa crescer três ou quatro pontos percentuais acima da expansão do PIB do período", explicou. Considerando as previsões mais otimistas de alta do PIB de 9% ao ano nos próximos anos, isso significa que o consumo deveria crescer 12% ou 13% ao ano, ao passo que hoje cresce entre 6% e 7%. Ao mesmo tempo, segundo o raciocínio do professor, o investimento deveria crescer cerca de 9% ao ano, mas hoje cresce em torno de 15%.

O pessimismo do professor em relação ao crescimento chinês, na contramão da maior parte dos analistas, encontra mais uma base de análise. Para o consumo crescer em um ritmo superior à expansão do PIB, a renda da população, hoje muito reprimida, precisaria crescer muito. "O chinês poupa não porque ele não gosta de comprar. Ele poupa porque a renda dele é muito reprimida", afirmou.

O câmbio também é uma dificuldade adicional ao país, na avaliação de Pettis. Segundo ele, a moeda precisa se valorizar, mas isso teria que acontecer de maneira lenta e gradual já que uma mudança na política cambial afeta os exportadores de "forma dramática". "Se a valorização da moeda for feita muito rapidamente, vai afetar o poder de compra da população e aí a taxa de consumo não cresce no ritmo que precisa para o reequilíbrio da economia."

O prazo para que esse cenário negativo se concretize? "Difícil dizer. Mas quanto antes a China começar a reestruturar seu modelo de crescimento, menos doloroso será", afirmou.

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