terça-feira, 12 de julho de 2011

Crise vai chegar aos emergentes, alerta BIS

Estudo da entidade aponta que, hoje, toda a economia mundial está ameaçada

Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo
http://economia.estadao.com.br/

GENEBRA - A crise da dívida que começou na Europa vai se espalhar, não poupará nem países emergentes e é uma ameaça para a estabilidade financeira internacional. O alerta é do Banco de Compensações Internacionais (BIS, o banco central dos bancos centrais). A entidade aponta que o risco país elevado será a nova realidade no cenário financeiro e não vai ceder nos próximos anos.

Em estudo feito sobre a crise da dívida, a instituição concluiu que o buraco nas contas dos governos, que é fenômeno em diversos países, chegou para ficar por um longo tempo e pede que autoridades acelerem uma solução se não quiserem ver bancos e todo o sistema financeiro duramente afetados pela nova crise.

O colapso da economia mundial em 2008 obrigou países ricos a promoverem o resgate de setores inteiros das suas economias. Três anos depois, o resultado é a explosão das dívidas dos governos. Entre 2007 e 2010, a média dos déficits orçamentários dos governos passou de 1% para 8% do PIB. Já a dívida média saltou de 73% para 97% do PIB.

Os economistas constataram que são esses próprios governos que sofrem para pagar suas contas. Para o BIS, é a economia mundial que está ameaçada. "A estabilidade financeira global depende das condições fiscais de cada país", alerta.

Cálculos indicam que a crise da dívida soberana irá se espalhar nos próximos anos e papéis da dívida pública serão considerados cada vez mais ativos de risco. "Olhando para o futuro, as preocupações com o risco soberano devem afetar uma gama mais ampla de países", diz o estudo. "Nas economias avançadas, o nível da dívida soberana deve subir nos próximos anos".

Crise ampla. O banco desfaz a noção de que a crise seja limitada à Europa e aos Estados Unidos e aponta que os emergentes não estão imunes. "Nas economias emergentes, a vulnerabilidade a choques externos e instabilidade política podem ter efeitos adversos esporádicos no risco soberano".

O BIS insiste que a crise mais grave é na zona do euro e que os níveis de dívidas dos emergentes são menores. "Mas, no geral, o risco sobre a dívida dos países deve ser maior e mais volátil nos próximos anos", alerta.

Não é só a periferia da Europa que sofre com a crise. Ela já atinge Itália e Bélgica e o estudo deixa claro que EUA, Reino Unido e Japão podem ser as próximas grandes ameaças. Junto com a zona do euro somariam "enormes déficits fiscais".

Alguns deles já foram alertados de que podem perder seu status de AAA dado pelas agências de rating. Esses países, além dos resgates bilionários aos bancos, enfrentam envelhecimento de suas populações, empresas endividadas e famílias com altas taxas de insolvência. "O risco país alto deve ser elemento persistente a partir de agora", indica.

Bancos. Para o BIS, trata-se do fim da percepção de que os papéis do Tesouro desses países não representam risco e quem sofrerá são os bancos. Na Europa, bancos têm exposição de cerca de US$ 1 trilhão nas economias que sofrem com dívidas elevadas. Se for contabilizada, a exposição total dos bancos aos títulos da dívida soberana chegaria a 75% dos italianos, alemães e americanos. No caso dos suíços, belgas e canadenses, a taxa sobe para 200%. A crise da dívida pode levar a uma maior dificuldade dos bancos em relação à liquidez, além da erosão dos lucros e da estabilidade. Os primeiros exemplos são dos bancos de Portugal e Grécia.

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Um comentário:

  1. "Nas economias emergentes, a vulnerabilidade a choques externos e instabilidade política podem ter efeitos adversos esporádicos no risco soberano".

    Apesar do texto ser condizente com a atual realidade da economia mundial, no caso brasileiro, vulnerabilidade a choques externos e instabilidade política já não causam grandes impactos.

    Aguardemos os próximos capítulos...

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