domingo, 11 de março de 2012

O mercado de trabalho do economista

Por Fernando de Aquino Fonseca Neto (*)
Artigo publicado em http://www.cofecon.org.br

O espaço do economista no mercado de trabalho no Brasil tem sido restringido pela visão que se formou desse profissional. As definições de economia, dentre as quais uma mais inteligível seria “a ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, distribuição e consumo de bens e serviços”, evocam uma disciplina de natureza acadêmica, aplicável apenas às discussões da atuação dos governos no ambiente econômico, ou ainda às perspectivas de diversos mercados, em escala global, nacional ou local. É analisando esses temas e eventos que o economista tem tido frequente exposição na mídia, o que faz parecer que o seu espaço seria apenas o de estudioso acadêmico. Outro espaço de atuação reconhecido pela opinião pública seria como especialista em mercado financeiro – habilitado a identificar as melhores oportunidades de compra e venda de ações e títulos, assim como as mais adequadas opções de aplicações financeiras e de financiamentos para indivíduos e empresas. 

De fato, a área acadêmica e o mercado financeiro são fortes áreas de atuação dos economistas – no Brasil e no mundo poucas áreas seriam comparáveis em quantidade e qualidade de mestres, doutores, periódicos científicos e instrumental metodológico; assim como em formação e habilidades para um desempenho diferenciado no mercado financeiro. Entretanto, em várias outras atividades o envolvimento de economistas é vantajoso não só por ampliar o seu campo de atuação, mas pelo seu potencial de prestar serviços mais adequados que outros profissionais, sempre que sua formação específica possibilitar, elevando a eficiência na utilização dos recursos, com implicações favoráveis sobre os resultados do contratante e, como a própria teoria econômica postula, sobre o bem-estar social. 

Mas qual seria esta formação específica? Muitos reclamam, sobretudo os próprios economistas, dos conteúdos dos cursos serem muito teóricos e abstratos, não lhes capacitando para atender às demandas do mercado. Em que pese a importância do aumento de conteúdos de aplicação mais direta, deve-se admitir que é justamente essa sólida formação teórica que permite um efetivo acompanhamento da conjuntura econômica, até em escala global, e uma correta interpretação do comportamento dos mercados de interesse. Agregue-se a essa formação o domínio de instrumentos bem específicos dos economistas, como cálculo financeiro, econometria e análise de insumo produto. Antes mesmo da reserva de mercado legal, disso resultam as suas vantagens em várias atividades. 

As demais profissões são dignas de todo respeito e reconhecimento nas atividades em que suas formações são mais adequadas. Dentre os que interagem com mais freqüência com os economistas, vale citar os administradores, os contadores e os engenheiros. Longe de querer rotular ou limitar a atuação de qualquer profissional, o foco do administrador seria a gestão das diversas áreas de uma instituição; do contador, o registro das alterações e levantamento de demonstrativos do patrimônio de uma instituição, e do engenheiro, a identificação das soluções mais adequadas para demandas no âmbito físico. Assim, o administrador se envolve na gestão de todas as áreas, o contador se apresenta para assumir as demandas de natureza financeira e o engenheiro é dotado de um treinamento que lhe confere grande habilidade para atividades de natureza analítica, mas esses profissionais não retiram a utilidade do economista para empresa, como funcionário e/ou como prestador de serviços. 

Embora com demanda consolidada no mercado financeiro e nas atividades de pesquisa, em universidades, instituições de pesquisa e consultorias, os economistas sofrem a concorrência de outros profissionais em atividades nas quais teriam a formação mais adequada. Nessa situação, vale citar três exemplos – planejamento, projetos e perícia. Deve-se esperar que equipes multiprofissionais tenham desempenho melhor em tais atividades, mas a presença de economistas seria indispensável para a obtenção de resultados de alto padrão, principalmente em função de sua formação voltada para entender o ambiente macro e microeconômico. Essa capacidade em outro profissional é improvável e tende a ser inadequada, podendo ser difusa, superficial ou representar mera opinião. 

Nas atividades de planejamento, seja no setor público ou privado, a elaboração de cenários macro e microeconômicos é indispensável. No mesmo sentido, a elaboração de projetos de viabilidade econômico-financeira exige a identificação de dimensões, momentos e ritmos dos projetos que demandarão pesquisas de mercado e correto acompanhamento da conjuntura e tendências econômicas. Enquanto na perícia econômico-financeira, a utilização de cálculos financeiros e econométricos, além da aplicação de indicadores econômico-financeiros, são requeridos, fazendo do economista o profissional mais habilitado. Observe-se que a perícia econômico-financeira é muitas vezes erroneamente denominada perícia contábil, o que não modifica a sua substância nem a torna privativa do contador. Em particular, essas três atividades citadas são bons exemplos das que seriam mais adequadas à formação do economista, mas muitas vezes são desempenhadas pelo contador, sobretudo por estarem mais próximos das empresas no exercício de suas atividades privativas de registros e elaboração de demonstrativos contábeis. 

Apenas para preencher planilhas e formulários não é preciso ser economista, assim como apenas para cortar alguém com o bisturi não é preciso ser cirurgião. Então, que tal fazer uma cirurgia plástica com um esteticista? Afinal de contas, os barbeiros, que já cortavam os cabelos dos clientes regularmente, eram aproveitados para eventuais extrações de dentes. Porém, nesse serviço nós já evoluímos. 
___________________________________________________
(*) Fernando de Aquino Fonseca Neto é doutor em economia pela Universidade de Brasília e presidente do Conselho Regional de Economia de Pernambuco (CORECON-PE)

Confira as últimas postagens
Dominado pela Caixa, financiamento estudantil migra para o BB
Empresários doam dinheiro ao Ocupar Wall Street
‘Economist’ aponta sinais de perda da hegemonia dos EUA
Nos EUA, bancos pagam para devedores venderem casas
Há uma bolha imobiliária?
Gabrielli deixa para trás uma Petrobras transformada
Brasil apresenta os piores resultados em retorno de serviços públicos...
Imobiliárias estrangeiras expandem na Paraíba
Quatro das dez maiores empresas do mundo são estatais
Banco do Brasil já desembolsou R$ 162 milhões no Programa ABC
Rótulo de "emergente" precisa ser repensado, dizem economistas
GM volta a ser a maior montadora do mundo


Tags: mercado-trabalho-economista, atividades-perícias-econômicas-financeiras, ciência-econômica

Dominado pela Caixa, financiamento estudantil migra para o BB

Por Murilo Rodrigues Alves
Valor Econômico

BRASÍLIA – O Banco do Brasil (BB) conseguiu abocanhar quase metade do mercado de financiamento estudantil no país. A instituição emprestou R$ 913,2 milhões a universitários em fevereiro, aumentando o volume da sua carteira do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) para o acumulado de R$ 3,21 bilhões desde agosto de 2010, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo banco. 

Esse mercado até pouco tempo era exclusivo da Caixa Econômica Federal. Em 2010, quando o BB começou a fazer esse tipo de operação, a fatia do banco no mercado era de apenas 3%. A participação saltou para 30% no fim de 2011 e, com os contratos já formalizados neste ano, subiu para 48%. “O banco tem como objetivo tornar-se o principal operador do Fies”, informou, em nota, o BB. 

No mês passado, foram recebidos quase 25 mil novos contratos, 75% a mais do que os 14,3 mil de janeiro deste ano. Foram formalizadas mais de 40,5 mil operações de Fies no BB no acumulado de 2012 - ou 87% do total registrado em todo o ano passado (46,2 mil). De acordo com o banco público, 88 mil universitários de faculdades privadas já contrataram empréstimos na instituição, com "tíquete" médio de aproximadamente R$ 36,6 mil. 

O Fies permite financiar até 100% do valor da graduação, com prazo de pagamento de até três vezes o período financiado, mais um ano. Os juros são de 3,4% ao ano (ou 0,27% ao mês) para todos os cursos. O pagamento começa um ano e meio depois da formatura.

Confira as últimas postagens
Empresários doam dinheiro ao Ocupar Wall Street
‘Economist’ aponta sinais de perda da hegemonia dos EUA
Nos EUA, bancos pagam para devedores venderem casas
Há uma bolha imobiliária?
Gabrielli deixa para trás uma Petrobras transformada
Brasil apresenta os piores resultados em retorno de serviços públicos...
Imobiliárias estrangeiras expandem na Paraíba
Quatro das dez maiores empresas do mundo são estatais
Banco do Brasil já desembolsou R$ 162 milhões no Programa ABC
Rótulo de "emergente" precisa ser repensado, dizem economistas
GM volta a ser a maior montadora do mundo
Emissão de dívida por empresas brasileiras atrai investidor internacional

Tags: Banco-Brasil, BB, Caixa-Econômica-Federal, CEF, Financiamento-Estudantil, FIES, carteira-crédito, mercado-crédito, universidade, ensino-superior