terça-feira, 13 de setembro de 2011

Europa triplica investimento no Brasil

Com a crise na zona do euro, empresas europeias se voltaram para o Brasil e investiram US$ 23,4 bilhões no País de janeiro a julho

Iuri Dantas, de O Estado de S. Paulo
http://economia.estadao.com.br/

Diante da crise fiscal da zona do euro, empresas europeias quase triplicaram os investimentos produtivos na economia brasileira neste ano. Dados do Banco Central indicam que o Investimento Externo Direto (IED) oriundo dos países que adotam a moeda única subiu para US$ 23,4 bilhões nos primeiros sete meses deste ano, contra US$ 7,9 bilhões no mesmo período de 2010.

Além da perspectiva, para os próximos anos, de crescimento econômico nos trópicos e estagnação nos países desenvolvidos, as empresas europeias tentam participar de programas do governo brasileiro como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e aproveitar o boom imobiliário vitaminado pelo programa Minha Casa Minha Vida.

A estabilidade democrática do Brasil gera vantagens comparativas em relação a outros países dos Brics, composto ainda por Rússia, China e Índia, segundo Paulo Vicente, professor de estratégia da Fundação Dom Cabral. "Muitos têm medo de estar superinvestidos na China, devido à instabilidade do país; em algum momento eles vão parar de crescer e podem se dividir em outros países devido a movimentos separatistas", avaliou. "Comparativamente, a corrupção é menor aqui." O IED da Europa nos primeiros sete meses deste ano, com desconto dos recursos enviados via Luxemburgo, um centro financeiro, já superam o volume de todo o ano passado, segundo dados do Banco Central. A instituição não realiza o cruzamento de dados por país de origem e setor de destino no Brasil, porque isso poderia comprometer o sigilo comercial de algumas empresas com grande volume de investimentos.

Segundo fontes do Banco Central ouvidas pelo Estado, os europeus investem na economia de forma diversificada, sem concentração num ou noutro segmento. Neste ano, 13 setores receberam mais de US$ 1 bilhão em investimentos europeus: energia elétrica, comércio varejista, produtos alimentícios, extração mineral, metalurgia, petróleo e gás, minerais não metálicos, seguros, metalurgia, farmacêutico, equipamentos de informática, educação e infraestrutura. Empresas como Orange, Louis Vuitton, Cassino, Publicis, Citröen, Shell integram a lista de novos investimentos neste ano.

Equipes do Itamaraty monitoram o interesse dos europeus desde a eclosão da crise financeira internacional, em setembro de 2008.

O que chama atenção dos diplomatas brasileiros nos últimos meses, período em que cresceram as dúvidas sobre a solvência de países como França e Itália, são os alvos dos empresários do Velho Continente. Os gargalos brasileiros agora são vistos como oportunidade. Energia e aeroportos lideram a lista de interesse.

Mas há dificuldades até mesmo para isso. Segundo Paulo Vicente, o País precisa modificar alguns marcos regulatórios para ampliar a participação de estrangeiros em alguns setores e atrair mais investimentos.

O IED é cada vez mais importante para o País, que acumula déficits no setor externo em torno de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos cinco anos. O Brasil financia este déficit com investimentos produtivos, os dólares que ingressam para construção de fábricas, por exemplo. O dólar barato ajuda a aprofundar o buraco nas contas externas via aumento das importações, gastos de brasileiros no exterior e remessa de lucro de multinacionais para matrizes lá fora. O BC espera déficit externo de US$ 60 bilhões neste ano e IED de US$ 55 bilhões. A Europa deve contribuir com um terço destes investimentos.

Preço alto. "Está preparado para pagar a um diretor de filial no Brasil um salário maior do que o presidente da empresa na matriz?" A pergunta sintetiza o alto custo de fazer negócios no País, num momento de inflação alta e moeda valorizada. "Os espanhóis caem da cadeira, mas mesmo assim decidem investir", relata Nuria Pont, diretora executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio.

O Brasil ocupa a 127º posição no ranking de ambiente de negócios do Banco Mundial, atrás da China, que ocupa o 79.º lugar, e da Rússia, na 123.ª posição. A Índia vem atrás, como a 134.ª economia da lista. A instituição elogiou o País neste ano pela maior sincronização de dados entre a Receita Federal e os fiscos estaduais.

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Especialistas debatem o consumo e o consumismo

Matéria publicada originalmente em http://www.previ.com.br/

O consumo está presente na rotina de todos. Permanentemente uma parte da renda dos indivíduos é destinada à aquisição de bens ou serviços, seja por razões de ordem prática ou simbólica. O fato é que todos consomem. No Brasil, em particular, o consumo aumentou junto com o poder aquisitivo de classes que ascenderam economicamente. Nesta segunda-feira, a matéria da coluna Saúde Financeira é um convite à reflexão sobre os hábitos de consumo, as razões que nos levam a consumir, o apelo da mídia e a importância da educação financeira.

Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), nos últimos anos, cerca de 30 milhões de pessoas passaram da classe D para a classe C. Nesse sentido, os especialistas em finanças são unânimes em afirmar que a educação precisa crescer lado a lado com a economia, a fim de evitar problemas que possam comprometer o crescimento do país, como a inadimplência.

Consumo x consumismo
O antropólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Everardo Rocha, explica que o consumo é cultural e que os produtos e serviços possuem significados. "Mesmo que não tenhamos consciência, quando compramos algo estamos falando para o outro sobre nós mesmos. Através da compra enviamos mensagens e significados. Por isso, só tem sentido se for público". Para ele, o consumismo no país é visto de maneira negativa e se caracteriza quando o indivíduo compra mais do que pode, quando há exagero e falta limite.

"O consumismo tem um apelo ideológico e é rotulado como similar a um vício. Há certa superioridade moral entre a produção e o consumo. Como se a produção possuísse alguma nobreza e o consumo, algo superficial", explica.

Marcelo Silva Rocha, pesquisador do Observatório de Comportamento e Consumo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial/Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/Cetiq), vai ao encontro das colocações de Everardo Rocha. Para Marcelo, em nossa sociedade, que é capitalista, existe uma tendência em se valorizar a produção e a se desvalorizar os gastos. Algo como uma acusação e um julgamento permanentes de que o consumo é uma espécie de vilão da história, como se o indivíduo gastasse com futilidade dentro de um comportamento irracional.

"O interessante, como estudioso, é relativizar e compreender a prática do consumo dentro de um determinado contexto e não sair acusando. Cada pessoa elabora suas necessidades de uma forma. Todos precisamos dormir, por exemplo, mas onde e em quais condições irá variar de pessoa para pessoa", comenta Marcelo.

Mídia e consumo
Para Everardo Rocha, a mídia é o próprio sistema de consumo e o anúncio, o principal suporte. "É através da narrativa midiática que se dá o compartilhamento de valores e a construção de uma espécie de senso comum", diz o antropólogo.

O pesquisador do Senai/Cetiq, Marcelo Silva Rocha, afirma que a mídia tem um poder quase mágico capaz de influenciar o comportamento de consumo e chama atenção para o fato de as empresas estarem cada vez mais conscientes da importância de entenderem as necessidades dos consumidores e saberem usar as diversas formas de comunicação. "As empresas utilizam elementos de conquista como usar artistas de sucesso para vender um determinado produto ou serviço", explica.

O papel da educação
Para Everardo Rocha, a educação tem um papel fundamental na questão do consumo. "Infelizmente, a educação ainda é o calcanhar de Aquiles do Brasil. E na questão da educação financeira não é diferente, afinal, os conceitos de finanças não chegam sozinhos".

Marcelo Silva Rocha alerta para uma impressão que os indivíduos têm no momento da compra, independentemente do grau de instrução. "As pessoas, quando saem para consumir, se enxergam como autônomas, mas não percebem que o que é desejável vem de um critério coletivo, pois está diretamente ligado à construção cultural".

"Afirmar que o grau de instrução reflete na crítica da compra me parece muito determinista. O que eu acredito é que há diferentes tipos de consumo conforme a classe, e me refiro à renda. A formação escolar pode aproximar ou afastar um determinado tipo de consumo, mas não determinar". Nesse sentido, Marcelo comenta que as pesquisas têm mostrado que os desejos de consumo entre as diferentes classes econômicas são similares e o que difere é o tipo. Como também o padrão está sendo alterado.

"Se antes as pessoas queriam casas e carros, hoje há uma valorização da educação, da cultura do entretenimento, da saúde e do bem-estar que me parece interessante, pois é uma oportunidade para o Brasil se transformar e se desenvolver", comenta Marcelo.

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