terça-feira, 1 de novembro de 2011

Setor imobiliário cria riscos para economia chinesa

Matéria publicada em http://online.wsj.com

Qual seria a cara de um declínio da economia chinesa? 

Ela começa no setor imobiliário, o principal motor do crescimento nacional. O controle do governo sobre especuladores já começou a causar a redução de preços de imóveis residenciais. Em outubro, a média nacional dos preços de um imóvel residencial caiu 0,23% em relação a setembro, o segundo mês consecutivo de queda, de acordo com as informações divulgadas na terça-feira pelo Sistema de Índices Imobiliários da China. 

Se compradores, normalmente acostumados com preços se movimentando apenas para cima, adotarem uma postura de "esperar para ver", o volume de vendas cairá. As vendas em 2011 têm sido robustas até o momento, chegando a 12% de elevação nos primeiros nove meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. Mas nem sempre foi assim. Em 2008, as vendas caíram 15% em relação ao ano anterior. Uma repetição desse fenômeno deixaria as incorporadoras sem dinheiro para cobrir seus custos. 

As incorporadoras mais afetadas seriam obrigadas a uma venda explosiva de inventário, reduzindo drasticamente os preços para atrair compradores. No que pode ser considerado um sinal da situação atual, os preços de dois novos empreendimentos em Shangai foram cortados em mais de 20% em outubro. Em um mercado competitivo, no momento em que uma construtora começa a reduzir preços, as demais acabarão forçadas a fazer o mesmo. O resultado seria uma queda nos valores de ativos e das expectativas de lucro no setor.

Incorporadoras em crise também diminuiriam seus investimentos. Em 2011, até o momento, o investimento no setor imobiliário foi cortado em 35%. Mas este nível de gastos não está garantido. Nos primeiros dois meses de 2009, o crescimento teve redução de 4,7% se comparado com o ano anterior. Se as vendas secarem e o crédito continuar limitado, um declínio parecido não está descartado do cenário de possibilidades para 2012. 

Uma queda dessa magnitude dos investimentos no setor imobiliário poderia abater mais de dois pontos percentuais do crescimento do PIB chinês, que deve ficar em 9% em 2011. A expressiva desaceleração na demanda por materiais de construção, o desemprego entre os trabalhadores do setor e o choque na riqueza das famílias significa que o impacto pode ser ainda muito maior. 

O sistema financeiro não escaparia das consequências. Cerca de 20% da folha de empréstimos dos bancos estão ligados ao setor imobiliário. Outros 16% foram emprestados a governos locais, que receberam 40% de sua receita de vendas de terras. Os preços decrescentes dos imóveis reduziria os preços das terras, elevando o padrão das duas categorias. Com o crescimento desacelerando e a qualidade dos ativos se esvaindo, o governo chinês estaria com uma crise completa nas mãos. 

Essa o pior cenário possível. O principal é que a China vai se recuperar com uma forte e fundamental demanda sustentando os preços dos imóveis e com recursos governamentais apoiando os bancos. Mas Pequim não está onisciente. Os preços dos imóveis chineses está caindo, e a resposta dos compradores e construtores é difícil de prever. A possibilidade de uma queda acentuada nos preços fugindo do controle do governo é pequena – mas ela existe. Se isso acontecer, é hora de reavaliar as chances de um pouso forçado.


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Tags: China, crescimento-chinês, crise-eua-europa, crise-global, mercado-imobiliário, vendas-imóveis, cadeia-construção-civil

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