segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Alto consumo e pouca poupança dificultam investimento no Brasil

Por Tom Murphy, de São Paulo

Os brasileiros estão gastando mais e economizando menos, enfraquecendo, assim, o potencial de investimento do país e aumentando sua dependência por fontes de crédito oficiais e investimento estrangeiro. 

"É difícil frear o consumo no Brasil", disse Maurício Molan, economista-chefe da unidade brasileira do Banco Santander. "Os brasileiros simplesmente não economizam. Mesmo quando as taxas de juros estão altas, eles preferem gastar." 

A economia do Brasil medida pela expansão do PIB, cresceu robustos 7,5% em 2010, mas o consumo aumentou ainda mais rapidamente, 10,3%, de acordo com o IBGE. 

A situação piorou este ano. 

"O Brasil redescobriu o consumo", disse Antonio Correa de Lacerda, um economista da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "O consumo ainda está liderando o crescimento em 2011. Nos primeiros três trimestres do ano, o consumo aumentou 8%, mas a produção industrial, apenas 2%." 

Segundo números do Banco Central do Brasil, o volume de empréstimo no país subiu a assustadores 19,2% nos 12 meses até setembro, chegando a R$ 1,93 trilhão, à medida em que os consumidores continuaram com o furacão de compras. 

E não são apenas os consumidores. As companhias brasileiras estão jogando a toalha em relação aos investimentos também. Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (IBMEC) mostrou que o reinvestimento de lucros corporativos representou apenas 36,9% do total de investimentos brasileiros em fábrica, equipamento e infraestrutura em 2010, muito abaixo dos 62,3% de 2005. 

Olhando pelo lado positivo, a taxa de investimento do Brasil em si está crescendo. Era de 15,9% do PIB em 2005 e aumentou para 18,4% em 2010. Economistas esperam que chegue aos 19% neste ano. 

"Mas a taxa de 19% está muito abaixo das nossas necessidades e da nossa capacidade", disse Elcio Gomes Rocha, economista-chefe do Banco do Brasil. "Para alcançarmos um crescimento econômico sustentável de 5% por ano, nós precisamos de uma taxa de investimento entre 23% e 24% do PIB." 

O Brasil deve ter dificuldade em chegar até mesmo a 20%. O problema é que o país se tornou fortemente dependente de duas fontes de investimento cuja expansão enfrenta limites naturais – empréstimo do governo e reinvestimento de multinacionais. 

Tanto um quanto o outro aumentaram sua participação no investimento total nos últimos cinco anos, segundo o IBMEC. Empréstimos feitos por agências governamentais, como o Banco Nacional do Desenvolvimento, BNDES, mais que dobraram como porcentagem do total de investimento brasileiro em fábrica, equipamento e infraestrutura, de apenas 9,4% em 2005 para 22,5% em 2010. O investimento estrangeiro direto – a clássica expansão de fábrica e equipamento por companhias multinacionais – aumentou mais devagar, de 12,2% do investimento total em 2005 para 14,5% em 2010. 

Mas a expansão do crédito governamental tem limites. O forte ritmo de empréstimo do BNDES em 2010 foi possível por causa de um empréstimo de R$ 105 bilhões do Tesouro Federal. O Tesouro está emprestando outros 55 bilhões de reais para o BNDES este ano, mas o programa de financiamento vai prescrever em 2012. 

As multinacionais devem preencher um pouco da lacuna. No entanto, o investimento estrangeiro direto depende de fatores que vão muito além do controle do Brasil, incluindo tanto a capacidade quanto a vontade das companhias em investir. Durante a crise financeira de 2009, por exemplo, as empresas multinacionais aumentaram as remessas para o Brasil, como reinvestimento, para cobrir os prejuízos que tiveram ao redor do mundo. 

"O investimento estrangeiro é bom contanto que você queira deixar de controlar parte de sua base industrial", disse o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira. "O que nós precisamos fazer é ampliar as economias domésticas reais e o investimento, como parte de um plano de desenvolvimento nacional, mas estamos muito longe de fazermos isso."


Confira as últimas postagens
Afinal, quando é positivo adquirir consórcio?
A tecnologia está matando empregos?
Iene muda futuro de Honda e Toyota
Aviso prévio maior deverá aumentar rotatividade de trabalho nas MPE...
Setor imobiliário cria riscos para economia chinesa
Banco de investimentos de Dubai cria fundo de futebol
País importa inflação vinda da China
Bancos brasileiros buscam formas de surfar o boom imobiliário

Tags: consumo-poupança-investimento, economia-brasileira, crédito-investimento, financiamento-investimento, investimento-público-privado, investimentos-estrangeiros, pib-Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário